Décimo Quarto Capítulo
Júlio fazia sinal para que Fernanda pudesse entrar. Ela abria a porta do quarto e se aproximava sutilmente... Tentando mostrar-se ser uma mulher tímida e simpática. Mas estava de olho mesmo, na herança do pai.
Fernanda (voz baixa): Olá...
Flávio (emocionado): Então você é a minha filha...
Júlio: Ao que tudo indica sim. Mas não se precipite... Temos que fazer o teste de DNA.
Julieta: Bem... Numa hora dessas, a gente não sabe nem o que falar. Ao menos posso dizer, prazer Fernanda. Se for mesmo minha irmã, espero nos darmos muito bem. (abraça-a).
Fernanda (tímida): Muito obrigada pela recepção. Qual é o seu nome mesmo?
Julieta: Julieta, querida.
Fernanda (vira-se): Você deve ser o senhor Flávio Amorim.
Flávio: Mesmo eu não merecendo... (pausa) Será que pode me chamar de pai?
Fernanda: Me desculpe, mas não me sinto bem chamando o senhor de pai. Confirmado ou não que sou sua filha, é muito difícil para mim. (pausa) Minha vida foi sofrida... Desde que nasci não conheci meu pai e nem ao menos minha mãe. Já que ela me largou quando eu ainda era um bebê ainda. (finge chorar) Se não fossem meus pais adotivos... Não sei o que seria de mim.
Flávio: Imagino que tenha sido difícil querida... Mas eu apenas queria me redimir do pouco tempo que me sobra. Eu nunca poderia te recompensar o que perdemos no passado, mas eu queria lhe deixar pelo menos uma vida digna.
Fernanda (limpa as lágrimas fingidas): Eu tento compreender... Mas preciso de um tempo para absorver essa história e ver mesmo que o senhor é meu pai.
Julieta: Desculpe-me interromper, mas quando será esse exame?
Júlio: Amanhã mesmo. Estejam preparados.
Fernanda: Eu estarei... Mas preciso ir agora. Com licença... (abre a porta).
Flávio: Espere Fernanda.
Fernanda (vira-se): Sim...
Flávio: Até mais... Minha filha.
Fernanda (finge-se de sofrida): Até...
Ela fechava a porta, andava alguns passos e sorria.
Bairro da Barra...Neuza saia de sua casa apressada, entrava em seu carro e o ligava. O velho fusca custava a pegar, e com sua pressa, resolveu pegar um táxi. Sem sorte pelas esquinas movimentadas da orla de Salvador, era surpreendida quando Carlos, filho de Betty, lhe via e passava com seu carro na calçada.
Carlos: Eae coroa?
Neuza: Olha só quem está aqui... Acho que é meu dia de sorte.
Carlos: Quer uma carona?
Neuza: Com certeza meu bad boy.
Carlos: Não sou de tirar onda de taxista, mas vai pra onde coroa?
Neuza: Hospital Aliança. Coisa rápido rapaz.
Carlos (coloca os óculos escuros): Pode deixar.
Enquanto isso...
Marinalva andava no gramado do Farol da Barra, olhando para o grande mar azul da cidade, quando era surpreendida por um pivete, que tentava lhe tirar a bolsa. Ela tentava se defender, mas a sua situação piorava quando o malandro mostrava-lhe um canivete. Cacá via a cena de longe pelo retrovisor do carro e corria para ajudá-la.
Marinalva (gritando): Socorro!
Cacá (aproxima-se): Êpa! Solta a moça rapaz!
Pivete (aponta o canivete): O quê que é? Perdeu a noção do perigo rapa?!
Cacá: Larga ela agora!
Cacá começava uma luta com o pivete, enquanto segurava o braço dele, que lhe ameaçava com a faca. Ele torcia o pulso do jovem malandro, que acabava soltando sua arma e caia no chão, após levar um soco na cara. Espantado, ele fugia, enquanto Cacá gritava.
Cacá: Isso! Vai embora seu pivete desgraçado!
Marinalva (chocada): Ai meu Deus... Graças a Deus tudo acabou bem.
Cacá (vira-se): A senhora está bem?
Marinalva: Estou sim. Muito obrigada pela ajuda. Não sabe o quanto lhe agradeço.
Cacá: Que é isso... É o que eu podia fazer por uma pessoa vitima da violência dessa cidade.
Marinalva: Pois é... E pensar que mesmo com todas essas pessoas em volta, ninguém fez absolutamente nada.
Cacá: É mesmo um absurdo. Mas para eles, iam acabar salvando sua vida, mas perdendo a deles. É assim que pensam...
Marinalva: Esqueça isso. Mas uma vez muito obrigada.
Cacá: Espere. Você deve estar muito abalada. Quer que eu te leve para sua casa?
Marinalva: Não precisa de tanta gentileza...
Cacá: É sério. Meu táxi está bem ali.
Marinalva (sorri): Está bem.
Hospital Aliança...
Carlos chegava ao hospital e Neuza abria a porta do carro correndo.
Carlos: Falou aí tia...
Neuza (vira-se): Ah sim! Me desculpe rapaz... Obrigada por me trazer até aqui. Vou ter que vazar. (pisca o olho) Falou! (sai correndo).
Carlos (fala sozinho): Sinistro aí...
ALGUNS DIAS SE PASSAM
Era final de tarde, quando Fernanda, Julieta, Júlio, Flávio e Marcos se reuniam novamente, após terem feito o teste de DNA. O resultado era aguardado por todos no quarto onde Flávio estava internado. O médico abria a porta em silêncio, enquanto lia o documento. Todos se levantavam.
Flávio: E então doutor?
O médico respirava fundo e dizia...
Décimo Quinto Capítulo
Dr. Paulo Neves (respira fundo): Positivo... Fernanda Oliveira de Jesus é sua filha biológica.
Fernanda finge estar emocionada e chora.
Julieta (aproxima-se): Eu não sei exatamente o que dizer... Mas, bem vinda à família.
Fernanda (enxuga as lágrimas): Obrigada. Não sabe o quanto é importante para mim, ter descoberto quem é meu pai... Mesmo que um dia, ele tenha me abandonado.
Flávio (cai algumas lágrimas): E estou disposto a me redimir... Mas será que agora, mesmo estando deitado nessa cama, eu não mereço um abraço?
Fernanda: Claro (abraça-o).
Marcos (para Júlio): Eu nunca pensei que isso iria acontecer... Flávio tendo outra filha... E por cima, a abandonou!
Júlio (fala entre os dentes): Pois é... Agora é ver como essa situação vai ficar.
Marcos: Como assim?
Júlio: Apesar de ser frio da minha parte, vale lembrar que Flávio vai morrer em pouco tempo. A herança pode virar um duelo se é que essa mulher aparenta a ser o que mostra ser...
Marcos (a olha dos pés a cabeça): Claro que ela é meiga! Olha para o jeito dela... E ainda por cima é muito linda não é mesmo?
Naquele momento, Fernanda notava o olhar de desejo que vinha dele.
Mansão dos Passos...
Cacá chegava à mansão de Marinalva, quando parava seu táxi e apreciava.
Cacá: Uau! Você mora aqui?
Marinalva (sorri): Sim.
Cacá: Que casarão hein? Seu marido deve ser bem rico... Sem querer me intrometer.
Marinalva (ri): Está tudo bem. (pausa) Mas... Eu moro sozinha.
Cacá (surpreso): Não?
Marinalva: Não... Sou viúva.
Cacá: Sinto muito.
Marinalva (respira fundo): Bem... Eu preciso ir. (sai do carro) Acredito que não saiba, mas sou dona de um clube na Barra. “Caminho das Árvores”, se quiser me ver, estarei lá. Até.
Cacá: Tchau.
Bairro da Barra...Neuza voltava para sua casa aliviada, quando era surpreendida por Rita na calçada da vizinhança.
Rita (cínica): Ora, ora, ora... Como vai “Neuzinha”?
Neuza: Essa não! Ninguém merece!
Rita: O quê que foi? Não gostou de me ver não foi?
Neuza (irônica): Imagina querida. Eu estava falando daquela fofoqueira lá da frente. Agora se puder... Me dê licença?
Rita: Cuidado Neuza... Um dia a caça, no outro o caçador.
Neuza (dá as costas): Vá te catar!
Rita (fala entre os dentes): Velha...
Neuza: Invejosa...
Rita: Bruxa!
Neuza seguia para sua casa, abria a porta enquanto assoviava, entrava em sua casa e quando virava-se para fechar a porta era surpreendida novamente.Neuza (espantada): Uaí! Que susto você me deu menino!
Carlos: Foi malz coroa.
Neuza: O que você quer aqui?!
Carlos: Será que... Eu posso entrar no seu bagulho pra gente conversar?
Jardim dos Namorados...Julieta andava pensativa na orla do bairro da Pituba em Salvador, quando parava no jardim dos namorados para apreciar o mar, enquanto esperava por Romeu. Nisso, ele chegava.
Romeu: Julieta...
Julieta (abraça-o): Romeu, graças a Deus você veio! Ainda bem...
Romeu: Calma. E então? Como foi lá no hospital?
Julieta: Deu positivo. Ela é mesmo minha irmã. Não sabe o quanto isso está sendo difícil para mim.
Romeu: Por quê? Ela é antipática?
Julieta: Não... É até legal demais. Só que é complicado se acostumar com essa nova idéia de vida. Sem contar que meu pai, uma pessoa que tanto admirava por sua responsabilidade ter errado tão feio, ele está morrendo. Não sei o que será dá minha vida sem ele.
Romeu: Eu entendo sua situação. Espero que tudo termine bem... Mas por enquanto, é seguir adiante. Vamos superar isso juntos.
Julieta (sorri): Eu te amo sabia? (beija-o).
Casa de Fernanda e Cacá...
Lucas: Fernanda, eu vou sair com alguns policiais essa noite. Não tenho hora para voltar.
Fernanda: Está bem querido.
Ele fechava a porta e ela sorria, enquanto sentava-se no sofá e ligava para seu amante. Em poucos minutos, os dois estavam se beijando na cama.
Cacá: E então minha leoa, o que deu o teste de DNA?
Fernanda (sorri): Positivo.
Cacá: Hummm. Agora minha leoa é filha de milionário?
Fernanda (beija-o): Pode apostar que sim.
Cacá: Esse seu olhar... Tá pretendendo fazer alguma coisa?
Fernanda: Cacá... Meu pai vai bater as botas dentro de alguns meses e minha irmã parece ser aquele tipo de mulher apaixonada pela vida e sofredora que se acha a mocinha ba-ba-ca (ri).
Cacá: O que quer chegar com isso?
Fernanda: Eu quero dizer meu querido, que eu vou por a mão nesse dinheiro só para mim.
Cacá: Como vai fazer isso?
Fernanda: Você saberá em pouco tempo... Em pouco tempo.
FIM DO CAPÍTULO 14 e 15.
AUTOR: JULIANO NOVAIS.