Por que a decisão de escrever uma novela sobre a máfia italiana e sua conexão com o Brasil?
Lauro César Muniz: Mexer na principal ferida do país: a corrupção que leva à violência.
Esta é uma novela cuja temática é de certo modo nova na teledramaturgia brasileira. Isso pode afugentar o público?
Lauro César Muniz: O nosso desafio está em como contar esta história, é aí que se define a qualidade de uma obra. Afugentar ou atrair o público é o resultado do processo criativo. Nosso objetivo é manter o público conquistado pelo horário, na emissora, e conquistar um outro público das classes A e B.
Até que ponto vai a sua inspiração no livro do Lancelotti e onde começa a parte da novela desenvolvida por você? Essa era uma ideia que já estava sendo idealizada por você há quanto tempo?
Lauro César Muniz: O tema de Poder Paralelo nasceu de uma leitura de um livro do Sílvio Lancellotti, quase 20 anos atrás. O livro “Honra ou Vendetta” (L&PM) trazia um dado interessante: a relação entre a máfia Siciliana e o Brasil. Achei que o romance daria uma minissérie. No ano passado apresentei o projeto à TV Record para uma telenovela, alertando que seria necessário fazer uma ampliação, pois o livro tinha apenas cinco personagens femininas e desviava-se em muitos momentos da linha ficcional para descrever personagens reais da máfia. Além disso, a ação do livro se passava na década de 80 e eu pretendia fazer uma novela atual. Estudei, então, a fusão da linha central básica do livro, com uma história de minha autoria que complementava o livro, com muitas ações novas, várias personagens femininas, atendendo à extensão de uma telenovela.
A decisão da Record de adiar a sua novela te deixou irado? Você pensou, por algum instante sequer, romper as ligações com essa emissora?
Lauro César Muniz: Eu tinha absoluta segurança da história que estava escrevendo e que seria aprovada mais cedo ou mais tarde. Nunca cogitei de transferir o projeto para outra emissora, muito menos em romper ligações com a TV Record.
Ao abordar nessa novela a máfia siciliana e a polícia federal brasileira, permeada por muita violência física e psicológica, você acabou por se render à teledramaturgia da Record, feita, ultimamente, entre tiros e muita ação?
Lauro César Muniz: Uma telenovela necessita envolver um público bastante heterogêneo, que quer vibrar com muitas ações físicas, onde surgem tiroteios, atos de violência, aquilo que fascina o espectador médio de hoje. Essa tem sido a linha da TV Record que está em processo de conquista de público. Fugir a esta fórmula seria um risco grande demais que, nesse momento, a emissora não deve correr. Com exceção desse clichê, vou evitar ao máximo entrar em fórmulas já vistas e acabadas.
Por que o nome inicial de ‘Vendetta’? Sendo esse o nome inicial que você preferiria, como você adequa agora o título ‘Poder Paralelo’ à sua trama?
Lauro César Muniz: Inicialmente o título “Vendetta” era uma alusão ao romance “Honra ou Vendetta”. No entanto o título Poder Paralelo contém plenamente o tema que estamos abordando: a influência de organizações criminosas junto ao Poder constituído legalmente.
O mote da trama se deve à chacina que ocorre na vida de Tony Castellamare, que vê toda a família morrer. Poderia explicar, em aspectos gerais, qual o perfil desse personagem? De que modo passa a ação da Itália para o Brasil?
Lauro César Muniz: Brasileiro de origem italiana, Tony cultiva a dupla imagem de comerciante exportador de azeite e vinhos e capo da máfia Siciliana. Inteligente e culto, tem uma personalidade sedutora e muito forte, capaz de decisões implacáveis. Ao mesmo tempo é afetivo, gentil e intenso.Tony é enigmático. O perigo exerce forte atração sobre ele. Faz um jogo perigoso com a polícia brasileira e o crime organizado, arriscando a vida e a liberdade em busca de seus objetivos. Mas quais são esses objetivos? Vingar a morte de sua mulher e filhas? Tornar-se o grande chefe do crime organizado? Ou entregar a polícia os cabeças do poder paralelo? Tony é um irresistível mistério.
Deixar, uma vez mais, a cargo do Gabriel Braga Nunes o seu protagonista foi proposital? Por que a decisão recaiu novamente sobre ele?
Lauro César Muniz: Gabriel é um ator sensível, intuitivo, enigmático e com fôlego de protagonista . Se encaixa perfeitamente com Tony Castellamari .
De que modo a Lídia, interpretada pela Miriam Freeland, passa a ter a sua vida ligada à do personagem do Gabriel Braga Nunes? Você pretende discutir a ética profissional, através do personagem da Miriam, que é jornalista?
Lauro César Muniz: Lígia é repórter da revista Grafos, é competente, ousada, inteligente. Vive um conflito ao se apaixonar por Tony, que ela julga ser um capo mafioso. Como abandonar suas convicções, sua formação de jornalista séria e investigativa para ficar com um homem que parece ser um criminoso?
Que importância terá o triângulo formado pela Paloma Duarte, pelo Marcelo Serrado e pela Adriana Garambone nessa trama?
Lauro César Muniz: Importância vital já que nada nesta história acontece por acaso. Todas as relações e tramas estão interligadas e se desenvolvem com total coerência .
Como você geriu a crise que estalou entre a Paloma Duarte e o Marcelo Serrado?
Lauro César Muniz: Não houve propriamente uma crise. Houve mal-entendidos. Quando o assunto chegou até mim já estava resolvido. Nunca a Paloma cogitou de sair da nossa novela.
Quem você destacaria se tivesse de explicar a quem desconhece o enredo de ‘Poder Paralelo’?
Lauro César Muniz: Gosto de todos os personagens. Destacar algum seria injustiça.
Como você reagiu às saídas de alguns dos seus atores para a telenovela do Tiago Santiago, em especial, o Luciano Szafir? Foi mais uma concessão que você teve de fazer para ele?
Lauro César Muniz: É comum em todas as emissoras essa migração de atores de uma novela para outra, na Record não é diferente. O mesmo ocorreu, por exemplo, com Petrônio Gontijo e Miriam Freeland que deixaram “Os Mutantes” para integrarem o elenco de “Poder Paralelo”.
Vários atores vieram de ‘Paixões Proibidas’, exibida na Band. Isso é, em parte, resultado de contar com a direção do Ignácio Coqueiro?
Lauro César Muniz: Ignácio é um diretor experiente e com grande sensibilidade e bom gosto. Nosso trabalho está apoiado na confiança mútua, no diálogo. Nada é decidido sem a nossa concordância.
Das primeiras imagens divulgadas, ‘Poder Paralelo’ aparenta ter cenários um pouco sombrios e uma iluminação bastante escura. É proposital para a atmosfera que você quer ver criada para a sua novela?
Lauro César Muniz: A direção de arte e a iluminação de “Poder Paralelo” são extremamente bem cuidados. Cada ambiente está adequado à sua atmosfera, inclusive com paisagens belíssimas e muito sol quando necessário.
A explosão, que já aparece nas chamadas da novela, é um dos pontos-chave iniciais criados para prender as pessoas?
Lauro César Muniz: Nas chamadas aparecem apenas parcialmente esta explosão. A qualidade técnica da explosão é realmente fantástica, aliada a uma direção segura e certeira, que garante a emoção das cenas.
Dessa vez, você está dividindo o seu trabalho de redação com mais pessoas? Com quantos capítulos você estreia de frente?
Lauro César Muniz: Divido o trabalho com vários colaboradores: Dora Castellar, Mário Viana, Aimar Labaki, Newton Cannito, Rosane Lima e a pesquisadora Rosani Madeira. Vamos estrear com 44 capítulos escritos.
‘Poder Paralelo’ é a sua última novela na Record? Como estão suas relações com a emissora?
Lauro César Muniz: Minhas relações com a Tv Record são excelentes. A emissora investiu dinheiro e afeto na produção de Poder Paralelo. Só tenho que agradecer o empenho dos vários setores que colaboraram visando o sucesso de Poder Paralelo.
Como você vê uma eventual concorrência do SBT, com a reprise de ‘Dona Beija’?
Lauro César Muniz: Não escolhos os concorrentes. Toda novela que se escreve, é para ser páreo para qualquer outra, se escreve por que acredita-se no seu potencial e na sua qualidade, se não porque escrevê-la?
Como você descreveria ‘Poder Paralelo’ para os internautas do site?
Lauro César Muniz: Poder Paralelo não vai dourar a realidade com mentiras e fantasias. Vai falar de problemas sérios, vai tentar mobilizar o telespectador para a realidade que vivemos hoje em nosso país.
CRÉDITOS.:.NA TELINHA