quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma entrevista com Cecília Dassi

Escrito em 1955, “Lolita”, de Vladimir Nabokov, chocou a sociedade do pós-guerra ao mostrar uma adolescente despudorada que abusava de seu poder de sedução ante Humbert Humbert, adulto que ficava aparvalhado com os truques aparentemente inocentes da jovem. Nada mais adequado, então, que a história seja a referência que Cecília Dassi tem buscado para traçar o perfil de Clarisse, jovem de “Viver a Vida” que tem um romance com Bernardo, homem 20 anos mais velho interpretado por Bruno Perillo.

“Ela não é tão criança, não fica de tênis. A Clarisse usa roupas mais arrumadas, mas tem o mesmo espírito: senta de um jeito provocante e finge que não tem nada acontecendo. Ela é muito sonsa”, diverte-se a atriz de 19 anos, que já havia lido o livro antes de saber da escalação e que assistiu as duas versões cinematográficas da obra para se inspirar.


Foi da segunda adaptação para o cinema, lançada em 1997 e dirigida por Adrian Lyne, que Cecília mais encontrou semelhanças entre a ninfeta e seu novo papel. “Essa versão me ajudou muito, com certeza. O filme de 1962, na época, deve ter sido muito audacioso. Mas, hoje em dia, você olha e diz “tá, e daí?”", brinca ela, referindo-se ao longa dirigido por Stanley Kubrick e cujo roteiro foi assinado pelo próprio Nabokov.


Aos 18 anos, Clarisse não chega a causar tanto mal-estar quanto a Lolita original, que beirava os 12 anos – mas, ainda assim, deixa Gustavo, pai da jovem interpretado Marcello Airoldi, espumando de raiva por se relacionar com um homem que tem a mesma idade que ele. Para a atriz, a reação é mais do que compreensível. “É normal, né? O pai sempre acha que a filha é a princesinha. Quando ela namora um homem de 35 anos, ele tem de assumir para si mesmo que ela não é mais uma menina, mas uma mulher”, pondera.


A índole da personagem representa uma guinada nos rumos da carreira de Cecília. Desde sua estreia na TV, a atriz emendou trabalhos em que aparecia como boa-moça – mesmo quando a intenção não era exatamente essa. Foi o caso da Estela de “Sete Pecados”, que deveria ser umagarota problemática e cujo enredo acabou caindo na docilidade. “As pessoas meio que criam um estereótipo, um preconceito. Não é por mal, mas é uma imagem que se cria. Acho que a Clarisse está sendo uma oportunidade para mostrar outro lado meu”, defende.


A escalação da atriz para o papel não foi à toa. Há 12 anos, ela chamou a atenção por seu trabalho como a meiga Sandrinha, menina que – apesar da pouca idade – era o ponto de apoio para Orestes, o pai alcóolatra vivido por Paulo José. “E foi justamente o que o Maneco me disse: ‘não fui eu quem construiu a Sandrinha? Pois eu vou desconstruí-la, agora. Quero ser responsável pelo seu segundo grande papel, pelo seu estouro’. Ele quer radicalizar”, comemora.


Parte do processo de “radicalização” inclui um figurino que deixa qualquer conservador de cabelo em pé. Tímida assumida e ainda assustada com o novo estilo, a atriz diz que prefere ficar de roupão para se proteger até o momento de gravar. “Eu não me sinto à vontade, não sou eu. Ainda fico um pouco angustiada. As roupas dela são todas muito clarinhas, porque a idéia é parecer que ela está nua”, observa.


Apesar da exposição intensa, Cecília tem encontrado apoio na sua própria família, que não tem feito cara feia para os modelitos ousados, quase sempre muito curtos. “Eles sabem que é algo importante para a minha carreira. Sempre torceram pelo meu trabalho e para que eu conseguisse me desvencilhar da imagem de menininha. Dizem: “é para colocar decote? Bota decote!”. Até meu pai fala isso”, conta, bem-humorada.

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