Em dez anos, "Fantástico" perde 1 em cada 3 telespectadores

Ricardo Feltrin
Colunista do UOL

Nos últimos dez anos, o "Fantástico", um dos carros-chefes de ibope da Globo, já perdeu mais de 30% de sua audiência, segundo levantamento de médias anuais de audiência na Grande São Paulo.

A tabela obtida por Ooops! mostra a evolução ano após ano do programa (veja a imagem abaixo). A queda dominical parece coincidir como o surgimento de uma concorrência maciça não de outra emissora, mas de um conjunto midiático que inclui internet, TV a cabo, DVD, e games.

Após anos de estudo, no ano passado a Globo implantou mudanças no "Fantástico", incluindo a saída de um de seus históricos "rostos", Gloria Maria. Pode ser só coincidência, mas a queda se acentuou após a despedida: de 28,2 pontos obtidos em 2007, último ano de Glória, para 23,4 pontos em 2009 (média calculada até 11 de outubro).



Este ano, o programa escolheu um viés mais popularesco. Escassearam as grandes reportagens científicas; sumiram as longas e boas entrevistas; reportagens inteligentes sobre comportamento, então, viraram raridade...

Por outro lado, grassaram matérias sobre celebridades, proliferaram quadros estranhos, e, principalmente, reinaram notícias sobre a própria Globo: quem está se amassando no "BBB" agora; quem vai comer olho de pato em "No Limite" depois; o que rola na festa da novela das 7 que será lançada amanhã.

O programa aparentemente busca nova identidade. O problema é que o telespectador, conforme comprova o gráfico, não parece ter tempo ou paciência para crises existenciais --ainda mais em pessoas jurídicas e ainda por cima no domingo à noite. Daí a novidade, observada pela coluna Radar, da Veja, de que há uma disputa inédita na TV aberta nesse dia e horário. Nos últimos dois domingos, a média de ibope do programa ficou por volta de 20 pontos.

Aqui se faz...
De sua estreia em 5 de agosto de 1973 até recentemente, uma das marcas registradas do "Fantástico" sempre foi a tal "última" reportagem. Aquela que sempre abordava temas assustadores, misteriosos ou preocupantes. Nas décadas de 70 e 80, dizia-se jocosamente que essa prática servia para estragar o final do domingo dos brasileiros, porque todo mundo ia dormir preocupado com alguma coisa.

Com os trocadilhos que a ocasião permite, parece que é o sr. Fantástico quem está "dormingo" preocupado agora.