Ele foi um dos pioneiros da televisão. Fez tanto fez – experimentando, adaptando, remendando, inventando, reinventando, naqueles tempos em que todos aprendiam fazendo – que sua história, pode-se dizer, se confunde com da própria TV brasileira. No início, foi ator; depois, passou a escrever, dirigir e produzir. Fez programas como A Família Trapo, Brasil 60, O Fino da Bossa, Esta Noite se Improvisa e muitos mais. Na Tupi, escreveu mais de 100 teleteatros, num tempo em que não havia videoteipe – se atuava ao vivo!
Em 1972, chegou à Rede Globo. Dirigia o Fantástico na época. Sua primeira novela na casa foi em 1978: Maria, Maria. Desde então, Manoel Carlos emenda um sucesso no outro: A Sucessora’ (1979), Baila comigo (1981), Sol de verão (1982), Felicidade (1991), História de amor (1995), Por amor (1997), Laços de família (2000), Mulheres apaixonadas (2003) e Páginas da vida (2006), e as minisséries Presença de Anita’ (2001) e Maysa (2009).
Viver a vida é a décima primeira novela de Manoel Carlos na Globo. Como nas outras, essa também tem impressa a sua marca registrada – a abordagem genial das relações humanas, da alma feminina, do mundo cotidiano. A partir de 14 setembro, vamos com Maneco numa viagem deliciosa pela emoção.
Como você define Viver a vida?
Manoel Carlos: Um punhado de histórias humanas, tangendo, roçando a realidade, mas totalmente ficcional. Homens e mulheres vivendo suas vidas compostas de dramas e comédias, dando solução aos seus conflitos e superando suas dificuldades.
Mais uma protagonista Helena! Mas elas, em geral, são mulheres maduras. Dessa vez, o papel cabe a Taís Araújo, que tem 30 anos. Qual o motivo?
Manoel Carlos: Sempre pensei em criar uma Helena mais jovem, que abrisse um leque de novas possibilidades para o personagem. Uma mulher por volta dos 30 anos, bonita, bem sucedida no amor e na profissão, mas sentindo-se, mesmo assim, incompleta. Por obra do acaso, vê-se envolvida com um homem mais velho, divorciado, que vai lhe dar a felicidade desejada, mas à custa de muita luta e muito sofrimento. Essa era a Helena mais jovem que eu desejava criar já há algum tempo. Como também sempre quis escrever um papel para a Taís Araújo, que é uma atriz que admiro muito, achei que a possibilidade estava nessa história. E assim nasceu essa nova Helena.
Luciana, personagem de Alinne Moraes, é o personagem síntese da superação pessoal em Viver a vida. De onde surgiu sua inspiração?
Manoel Carlos: Me interesso por histórias de superação. De pessoas que conseguem transpor obstáculos, aparentemente intransponíveis, tirando, de dentro de si, uma força que não imaginavam possuir. Que chegam a um limite de sofrimento – de onde não conseguem avistar uma saída –, mas que mesmo assim lutam, não se entregam, e acabam por encontrar uma solução para suas vidas. Viram exemplos de superação. Exemplos de que a vida vale a pena ser vivida, apesar de tudo. Luciana (Alinne Moraes) vai ser esse exemplo, entre outros que a novela vai mostrar.
O alcoolismo é um tema recorrente em suas novelas. Dessa vez, ele vem em forma de anorexia. Em que medida esse assunto preocupa você?
Manoel Carlos: Considero o álcool um dos maiores flagelos sociais, principalmente por ser considerado uma “droga lícita“, como se isso fosse possível. É dele que se tira o falso prazer, a falsa alegria, a falsa ideia de que a vida é um passeio. E por isso é tão atraente e, por consequência, perigoso. Por essa razão, me interessei sempre pelo assunto, usando a novela como um alerta, uma advertência, já que atinge milhões de pessoas. Por me interessar pelo tema, tive acesso a estatísticas aterradoras sobre anorexia alcoólica, distúrbio alimentar batizado de drunkorexia, em que as mulheres substituem a alimentação pelo álcool, para não ganhar peso com a ingestão de bebida. Segundo informações de psiquiatras, o alcoolismo feminino quase sempre está associado a transtornos psicológicos como a anorexia, a bulimia, a depressão, a ansiedade. A personagem Renata (Bárbara Paz) vai viver esse drama e terá que superá-lo.
Quais serão os outros temas importantes ou polêmicos da novela?
Manoel Carlos: São muitos os temas para os quais espero chamar a atenção do público, mas destaco um como exemplo: o de mostrar uma área médica, batizada de cuidados paliativos, que cuida de doentes em estado grave e terminal. Não há nada de mórbido e de assustador nesse tema, como pode parecer à primeira vista. Ao contrário: humaniza a relação médico-paciente, tornando uma vida aparentemente inútil ao se encerrar, numa nova possibilidade de bem-estar e de aceitação do fim, do qual ninguém escapa.
Dessa vez o bairro do Leblon divide as atenções com Búzios na história. Qual é a sua relação com a cidade?
Manoel Carlos: Búzios é um lindo e ensolarado lugar, que, ainda que reúna qualidades de grandes centros urbanos (o de polo gastronômico, por exemplo), não perdeu o encanto de uma pequena cidade de férias. A sensação que se tem, estando-se lá, é de que todas as noites são sábados e todos os dias, domingos. Amo estar lá e reunir a minha família, para uma vida de pés descalços, de roupa leve, de cabeça livre, de coração em paz. O Leblon estará presente, como em todas as minhas novelas, mas dessa vez, dividindo espaço com Búzios.
Viver a vida viajou para o Oriente Médio e para a França. Qual a importância de se gravar nesses locais?
Manoel Carlos: A Jordânia foi escolhida pelo fascínio que exerce, em nossa imaginação, a cidade de Petra, que é esculpida na rocha. Na pedra. Precisávamos de um lugar assim, fascinante e pouco conhecido, para a realização de um desfile de moda. Jerusalém exerce a mesma atração e curiosidade, já que é um lugar sagrado, historicamente muito conhecido, mas raramente visto nas novelas. E finalmente Paris, onde serão vividas duas luas-de-mel.
Suas tramas sempre têm base muito forte na relação familiar e no universo feminino. Você acredita que o público se enxergue nos seus personagens?
Manoel Carlos: Acredito que sim. Não custa repetir que não procuro o realismo, não tento reproduzir a realidade, mas o verossímil, o possível, o alcançável, sem me esquecer de que estou fazendo uma obra de ficção. O público, que vive a realidade propriamente dita, se reconhece nessa imitação.
Alguns atores são presenças certas em suas obras. Em Viver a vida, José Mayer, Lilia Cabral, Natália do Vale e Alinne Moraes são alguns deles. Você escreve os personagens já pensando nos atores?
Manoel Carlos: Nem sequer começo a escrever uma novela, sem ter o elenco principal escolhido e confirmado. Preciso saber quem são os atores e atrizes que vão dizer o texto, que caras e vozes terão. E procuro, na medida do possível, reunir pessoas com quem tenho afinidades de pensamento. Isso facilita e torna mais prazeroso o meu trabalho.
Viver a vida já foi título de outra obra sua, uma minissérie exibida pela TV Manchete. As tramas têm alguma similaridade?
Manoel Carlos: Não. A minissérie na TV Manchete, apresentada em 1984, era inspirada no romance “Uma Tragédia Americana”, de Theodore Dreiser (1871-1945 – EUA) e no filme “Um Lugar ao Sol” (1951). Já a novela é um original meu, que leva esse nome por eu gostar muito dele.
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