Esta semana, o Brasil conheceu o mais novo vencedor do Big Brother: Max Porto. Com apertados 34,85% dos votos, o carioca venceu Priscila e Francine e conquistou o prêmio máximo do programa. De quebra, ainda terá seus 15 minutos de fama que, se bem administrados, podem render mais alguns rendimentos. Final feliz para o bem, punição para o mal (se é que esta edição teve algum vilão de fato) e a resolução de uma trama de conflitos que atraiu os sentimentos de compaixão e justiça em mais de 40 milhões de espectadores-consumidores. Enfim, os brasileiros podem começar o ano e tocar suas vidinhas adiante. A novela acabou e, com ela, todos os argumentos de luta, usados pelos participantes do jogo, para transpor as barreiras da vida e das armadilhas de seus adversários. O povo fez a sua parte. Endossou um investimento milionário que não vai levar ninguém a lugar algum.
O formato do Big Brother não por acaso tem os ingredientes de um melodrama. Os aspirantes à fama são escolhidos entre milhares de candidatos, por meio de uma seleção direcionada, pressupondo certos encadeamentos, já que eles foram eleitos segundo características físicas e emocionais preestabelecidas. Lá estão a mocinha, a gostosa, o bonitão, a chorona, os vilões e, como não poderia deixar de ser, os representantes das minorias.
Durante nove edições, os telespectadores assistiram a verdadeiras “tramas comportamentais”, com a real possibilidade de interagir com o enredo, punindo ou premiando a ação dos “brothers”, através de atividades programadas, como o “big boss” e a “votação popular”.
Ao longo dos paredões, os participantes foram assumindo seus personagens. Fato curioso é a predileção do público brasileiro pelas "minorias sociais". No BBB observa-se que os candidatos mais populares repetem um padrão de identidade associado a arquétipos de personalidade. Listemos os vencedores de todas as temporadas: o ignorante boa praça (Bam Bam), o rústico (Rodrigo Caubói), o caipira influente (Dhomini), a babá de bom coração (Cida), o intelectual gay (Jean), a mãe da menina com necessidades especiais (Mara), o herói (Diego Alemão), o feirante fiel (Rafinha) e, finalmente, o artista sincero (Max).
Margaret e Pearson (2001)¹ definiram doze arquétipos que se expressam na vida das pessoas. Alguns deles são facilmente identificados nos participantes do programa. São eles: o prestativo (Mara, BBB 6); o governante (Jean Willis, BBB 5); o bobo da corte (Fran, BBB 9); o cara comum (Buba, BBB 4); o amante (Thyrso, BBB 2); o herói (Alemão, BBB 7), o fora-da-lei (Tina, BBB 2), o mago (Monge, BBB 6), o inocente (Bam Bam, BBB 1), o criador (Iris, Alemão e Fani, BBB 7); o explorador (Doutor Rogério, BBB 5) e, por fim, o sábio (Jean Massumi, BBB 3).
No Big Brother Brasil 5, Jean Willis inflamou o programa ao se declarar gay e denunciar homofobia dentro da casa. Na condição de "minoria oprimida", caiu nas graças do público e da crítica. O caminho adotado pelo psiquiatra Marcelo, na oitava edição do reality, contudo, foi diferente. De forma consciente ou não, ele buscou explorar a roupagem sexual mais adequada para ser aceito por seus pares. Ambas personalidades se destacaram na competição. O escritor baiano faturou a premiação da quinta temporada, vencendo, inclusive, Grazi Massafera. Um avanço e tanto para um país ainda homofóbico e preconceituoso.
Fazer parte da minoria, contudo, não é fator determinante para o jogo. Esta edição do BBB, por exemplo, contou com dois “brothers” da terceira idade: Naiá (61) e Norberto (63). Ambos foram eliminados pelo público, com 52% e 55% dos votos, respectivamente.
No Brasil, ao contrário das versões internacionais, o Big Brother costuma separar dois sub-grupos de personalidades: os “marginalizados” e os "aspirantes à fama", com seus biotipos esculturais e certo grau de arrogância ou isolamento. A seleção destes "excluídos", além do jogo cênico que proporcionam, tem uma explicação comercial muito clara: gera identificação com um público consumidor em franca expansão. As classes C, D e E, enfim, viram-se representadas na tela da Rede Globo. Desta vez no papel de herói da vida real. Com isso, esse estrato populacional passou a interagir com o programa, na esperança de compensar seus personagens favoritos da pobreza em que viveram ou pela vida difícil que tiveram. Vitória dos excluídos, da esperança e da demagogia. O Big Brother, mais que um microcosmo da realidade brasileira, tornou-se uma reação global a um ato de preconceito que nos revela que as minorias estão se dando conta de seu poder.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
ALÉM DOS NÚMEROS.:.Big Brother Brasil, a voz dos excluídos
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