sábado, 12 de dezembro de 2009

"Cinquentinha" é deliciosamente abusada

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A minissérie Cinquentinha, depois de muito disse-me-disse, finalmente estreou na noite da última terça-feira, 8, na Globo. Já na estreia, foi possível notar que a série pretende alfinetar, através de um humor crítico, seu próprio meio. Mais do que isso: pode-se notar que o texto de Aguinaldo Silva fica cada vez mais ácido. O autor já demonstrava vontade de quebrar a barreira do politicamente correto o quanto fosse possível ao aliar a novela Duas Caras com comentários em seu blog, que se tornou campeão de acessos. Cinquentinha é um passo além nessa quebra de tabus, e serve para mostrar que o autor pode render muito mais produzindo minisséries.

Ainda existe uma série de barreiras que novelas não conseguem quebrar. Por mais que algumas tenham buscado ousar, tanto na forma quanto no conteúdo, sabe-se que a fórmula do folhetim é essencialmente a mesma. Soma-se isso a um público mais conservador, que resiste a certas modernidades. A minissérie, por outro lado, colhe os frutos da flexibilidade de seu formato. Vai ao ar mais tarde e busca um público, ao menos teoricamente, mais segmentado e que recebe melhor determinadas temáticas e formatos.

Cinquentinha debruça-se sobre essas vantagens, e se sai bem. Não só critica o próprio meio do qual é fruto (a televisão), crítica essa que também pode ser vista em Som & Fúria, mas inspira-se na vida dos atores (no caso, das atrizes) que compõem seu elenco. Ao ver Lara como uma famosa atriz de novelas com uma ponta de arrogância, não foi difícil remeter alguns episódios envolvendo a própria Suzana Vieira. O caso com Geovanna Tominaga é só um dos exemplos. Além disso, sua relação com a “jornalista fifi” que quer, a todo custo, descobrir sua idade, remete ao próprio Aguinaldo Silva e as alfinetadas que costuma distribuir à imprensa em seu blog. E nem é preciso citar as semelhanças entre Marília Gabriela e sua personagem, Mariana Santoro, não é? A própria assume que Mariana e ela são muito parecidas. No caso de Rejane, vivida por Betty Lago, deve-se buscar semelhanças com Renata Sorrah, primeira atriz cotada para o papel.

Além da inspiração com a vida real, tocada com o exagero de uma comédia de costumes, Cinquentinha busca inovar em tipos e situações. Para isso, aposta numa sensualidade que geraria protestos numa novela, mas que funciona muito bem na minissérie. Traz personagens sensuais e sexuais. O sexo, em Cinquentinha, aparece como elemento que caracteriza uma transformação social. Afinal, não é todo dia que se vê na TV duas senhoras com mais de sessenta anos com vida sexual ativa e plena. É neste contexto que surge um tipo ainda não visto na dramaturgia tradicional brasileira: um vilão gay. Carlo (Pierre Baitelli) virá na contramão dos homossexuais “bonzinhos” vistos nas novelas. Leila (Angela Vieira) também protagonizou cenas de homossexualidade feminina pouco vistas na TV. Engraçado notar que a TV americana lida melhor com essa temática, enquanto o Brasil, tido como um país mais “liberal”, ainda encontra muitos tabus.

O ponto central de Cinquentinha, no entanto, é a relação entre as protagonistas, que são obrigadas a trabalharem juntas em busca de uma herança. Lara, Mariana e Rejane são tipos diferentes, porém com diversos pontos em comum. Vê-las se engalfinhando antes de notar tais semelhanças é o ponto alto da minissérie. Isso graças, além do ótimo texto, das atuações das atrizes. Suzana Vieira, Marília Gabriela e Betty Lago estão muito bem e funcionam juntas. Destaque para Betty, num momento raro na TV ao fazer comédia fora de um texto de Carlos Lombardi. Será que um dia Marília Gabriela também encontrará personagens de outros atores que não Aguinaldo Silva? Vale lembrar que ela atuou também em JK, mas seus trabalhos mais relevantes como atriz de TV foram em Senhora do Destino e Duas Caras, ambas de Silva.

Cinquentinha, portanto, se aproveita das vantagens do formato e horário de exibição para trazer Aguinaldo Silva em sua melhor forma, usando e abusando da ironia para criticar o politicamente correto. O autor já declarou que Cinquentinha é o melhor texto que já escreveu para a Globo. Pode até não ser o melhor, mas merece figurar entre os melhores. Afinal, o politicamente correto é chato. E Cinquentinha é deliciosamente abusada.

Blog Tele-Visão

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