O juiz da 9ª Vara Criminal de São Paulo, Glaucio Roberto Brittes de Araújo, aceitou nesta segunda-feira denúncia do Ministério Público Estadual contra o bispo Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Eles são acusados de lavagem de dinheiro desviado da Universal, de maneira reincidente e com organização criminosa, e formação de quadrilha. O dinheiro dos fiéis era repassado a empresas de fachada ligadas à Universal, que mandavam os recursos para paraísos fiscais no exterior. O dinheiro voltava ao país para a compra de empresas de comunicação e outros bens. É o que mostra reportagem de Adauri Antunes Barbosa, Flavio Freire, Ricardo Galhardo e Soraya Aggege na edição desta terça em O Globo.
Segundo a denúncia, Macedo seria o chefe de uma quadrilha que usava empresas de fachada para desviar recursos provenientes de doações dos fiéis da Universal e praticar uma série de fraudes.
Apenas em 2004 e 2005, as empresas Unimetro Empreendimentos e Cremo Empreendimentos teriam recebido R$ 71 milhões da Igreja Universal. O dinheiro seria usado em benefício da quadrilha denunciada, o que, em tese, desvirtuaria a finalidade das doações à Universal, que tem isenção de impostos.
Edir Macedo não aparece nominalmente como sócio das empresas, mas depoimentos e outras provas colhidas ao longo das investigações apontam o fundador e líder da Universal como verdadeiro dono das empresas montadas para lavar o dinheiro recolhido de fiéis.
Os integrantes da quadrilha são acusados tanto por obrigar fiéis a fazer doações como por dar aparência legal às transações financeiras do grupo. Um desses fiéis, que sofre de doença mental, chegou a doar a totalidade de seu salário, fazer empréstimo bancário e vender um terreno por preço irrisório para doar todo o dinheiro à Universal. Em troca, recebeu uma "chave do céu" e um "diploma de dizimista" no qual assina como "abençoador" ninguém menos do que Jesus Cristo.
Macedo também é acusado de usar o nome de laranjas para comprar emissoras de rádio e TV que hoje compõem a Rede Record. Em alguns casos, Macedo teria fraudado procurações assinadas por estes laranjas para, posteriormente, transferir as ações das emissoras para seu próprio nome ou de pessoas acusadas de participar da quadrilha.
Além de Macedo foram denunciados Alba Maria da Costa, Edilson da Conceição Gonzales, Honorilton Gonçalves da Costa, Jerônimo Alves Ferreira, João Batista Ramos da Silva, João Luis Dutra Leite, Mauricio Albuquerque e Silva, Osvaldo Sciorilli e Veríssimo de Jesus. Aceita a denúncia, todos foram transformados em réus.
O juiz determinou que os réus respondam à acusação, por escrito, num prazo de dez dias. Procurado, o juiz não se pronunciou sobre o caso. O promotor do Gaeco Roberto Porto se recusou a comentar o caso, alegando que corre em segredo de justiça.
Ninguém foi encontrado nesta segunda na Universal para responder às denúncias. Nos locais onde funcionariam a Unimetro e a Cremo não havia quem falasse sobre o caso. A TV Record não quis comentar.
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