Aos 46 anos, o dramaturgo carioca Tiago Santiago, autor da novela Os Mutantes, da TV Record, se tornou personagem de um toma-lá-dá-cá digno de folhetim. Sua recente transferência para o SBT, com luvas de 2 milhões de reais, foi mais um capítulo da guerra detonada pela Record após a contratação do apresentador Gugu Liberato. "Acho que me deixar partir pode significar um erro estratégico da Record, sim", ataca. Desse ponto de vista, a emissora teria deixado escapar ainda a apresentadora Eliana e o publicitário Roberto Justus. Agora, segundo o autor, a Record tenta correr atrás do prejuízo: "Estão aumentando salários de dezenas de artistas e técnicos para que não migrem também". Pelo novo acordo, Santiago começa a trabalhar em agosto para o novo patrão, a um salário de 350.000 reais - que cai para 250.000 quando estiver fora do ar - e bônus de 600.000 ao mês se atingir 15 pontos no ibope. Na Record, chegava a ganhar 130.000, mais bônus. Na entrevista a seguir, ele fala sobre a mudança de endereço profissional, da negociação com Silvio Santos, na casa do próprio, e revela que não acredita na existência dos mutantes como os criados por ele - mas aposta que fadas e anjos andam por aí
O apresentador Gugu Liberato disse a VEJA que o SBT é ainda um avião potente, capaz de alçar altos vôos. É nisso que o senhor aposta ao deixar a Record?
Sim, sem dúvida. Silvio Santos é um homem brilhante, extremamente lúcido e respondeu com maestria ao ataque da concorrência. Contratou Roberto Justus, Eliana e a mim.
Por que o senhor decidiu deixar a Record?
De um tempo para cá, senti que minha consultoria e meu trabalho como autor não estavam sendo prestigiados como eu achava que deveriam ser. Não fui atendido em pedidos simples, como entrar com a novela Promessas de Amor às 21h30, para fugir por meia hora da concorrência de Caminho das Índias [o folhetim da Record vai ao ar às 20h30]. Também tive outros pedidos não atendidos: a criação de um programa nos moldes do Vídeo Show [da Globo] e uma melhor divulgação. Minha base salarial estava defasada em relação a valores de mercado, a premiação da audiência foi prejudicada pela mudança de horário e essas discussões acabaram levando à troca de canal.
O senhor ficou descontente com o destaque dado ao reality show A Fazenda, em detrimento das novelas. Considera um erro estratégico da Record?
Queria que a minha novela tivesse tanta divulgação quanto A Fazenda e fosse para o melhor horário. Acho que me deixar partir pode significar um erro estratégico da Record, sim. Bom para o SBT, para os artistas e para a audiência, que vão ganhar nova frente de novelas.
Como sua contratação repercutiu na Record?
Estão aumentando salários de dezenas de artistas e técnicos para que não venham para o SBT. Vão acabar gastando muito mais do que se me dessem as condições que pedi para trabalhar. É ótimo ver que o mercado de artistas e técnicos em novela se aqueceu por causa desta minha decisão de trocar de canal.
Seu contrato com a Record iria até 2012. O SBT arcará com a multa por rescisão contratual? Qual o valor?
O SBT arcará com a eventual multa, se houver. Nem sei se haverá decisão da Record de cobrar multa, que será discutida na Justiça, se isso acontecer. Não tenho ideia de quanto seria [estima-se que a multa gire em torno de 1 milhão de reais].
Como surgiu o convite para trabalhar no SBT?
O primeiro convite veio em 2005, quando [o diretor] Herval Rossano [morto em 2007] foi para o SBT, pouco depois de fazermos juntos seu belíssimo canto de cisne, A Escrava Isaura, em nova versão. Na época, Prova de Amor estava estourando na audiência, acima dos 20 pontos, chegando à liderança em alguns momentos, e não era a hora de mudar de canal. Agora, a guerra entre o SBT e a Record, por causa da saída do Gugu, veio bem na hora em que eu estava insatisfeito. Um amigo contou para alguém próximo ao Silvio Santos que era o momento perfeito para me chamar para conversar. Pouco depois, fiquei sabendo que ia receber uma ligação, e tive a grata surpresa de receber o telefonema do próprio Silvio. Fui convidado a ir a sua casa, onde conversamos sobre novelas e nossas experiências. A empatia foi grande. Fui muito bem tratado por ele, a quem sempre admirei, e chegamos a um acordo.
Qual a proposta de Silvio Santos para a área de dramaturgia do SBT?
Mesmo antes da minha contratação, foram tomadas ótimas medidas para a teledramaturgia do SBT, como a compra do acervo de Janete Clair e obras de Vicente Sesso. Silvio Santos sempre investiu em dramaturgia e fez muitas novelas no SBT, inclusive belas novelas brasileiras, como Éramos Seis. Depois, fechou contrato que durou anos com a Televisa [canal mexicano]. Ele me contou como sempre foi difícil contratar alguém com know-how de novelas da Globo, apesar de ter tentado vários autores. Espero poder valorizar a marca do SBT muito mais do que eu valorizei a da Record.
A saga de Os Mutantes também vai mudar de canal?
Não. Sem chances. Mutantes acaba agora, dia 3 de agosto. É o fim da saga. Depois de quase 600 capítulos, estou planejando novos voos em diferentes universos. Vou dizer o quê, exatamente, em outra ocasião, mas já tenho novos planos.
Além de assinar Os Mutantes, o senhor foi colaborador de Vamp, na Globo. Acredita mesmo em seres de outra dimensão?
Não acredito nos vampiros da lenda, nem que haja mutantes como os que eu inventei para divertir as pessoas e fazê-las sonhar e amar. Gosto, sim, de pensar que existem santos, seres milagrosos, fadas e anjos, na vida real. Acredito que possam existir seres em outros mundos, seres ainda misteriosos para nós. Adoro o universo fantástico e misterioso.
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