domingo, 8 de novembro de 2009

Mateus Solano fala sobre a dificuldade de interpretar gêmos

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Jorge e Miguel, interpretados por Mateus Solano, 28, em "Viver a Vida", vivem aparecendo nas mesmas cenas. Eles se abraçam, dão as mãos, e um já deu até uma chave de braço no outro, com o rosto dos dois mostrados pelas câmeras.

Os novos programas de computador são capazes de tantos truques que não se fazem mais gêmeos de novela como antigamente. Foi um "evento nacional" o único momento em que Quinzinho e João Victor, os famosos gêmeos de Tony Ramos, 61, em "Baila Comigo" (Globo, 1981), se encontraram (a cena pode ser vista no Youtube).

Manoel Carlos, 77, um dos fundadores da TV brasileira e autor de "Baila Comigo" e "Viver a Vida", se impressiona: "Hoje nada mais é impossível, a criação está totalmente livre. Escrevo as cenas dos gêmeos e nem preciso ligar para o Jayme [Monjardim, diretor de "Viver a Vida"] para ver se dá para gravar. Em "Baila Comigo" era tão complicado mostrar os dois juntos que eles só puderam se encontrar no final".

O autor diz não economizar em cenas com os irmãos em "Viver a Vida". "Mas também não abuso, porque há um custo e muitas horas de trabalho nas gravações e para a equipe de computação gráfica."

O diretor Alexandre Avancini, que já fez novelas com gêmeos na Globo e na Record, conta que um dos equipamentos modernos para as cenas em que os irmãos idênticos aparecem lado a lado e em movimento chama-se "motion control".

"É uma câmera que custa uns 600 mil, e o aluguel no Brasil varia de R$ 40 mil a R$ 50 mil por dia. É programada pelo computador e anda em um trilho para fazer o mesmo movimento ao gravar separadamente cada personagem. Assim, as imagens têm o mesmo tempo e podem ser "coladas"." A colagem, feita digitalmente, chama-se "wipe".

Nas novelas mais antigas, o jeito era abusar das cenas em que um dos gêmeos aparecia de frente e o outro, um dublê com corpo e cabelo parecidos com o do ator, ficava de costas - o que hoje também é usado, mas com menor frequência.

O processo era complicado para as raras cenas em que o rosto dos dois personagens aparecia. "A gente gravava primeiro um personagem de um lado do cenário, depois o outro, do outro lado, cortava as fitas com gilete e colava as metades", conta Nilton Travesso, 75, veterano diretor.

Com esse processo antigo, ele diz ter mostrado, pela primeira vez, uma pessoa "duplicada" na TV brasileira. "Foi em 1964, no programa "Dia D", da Record, em que eu trabalhava também com o Manoel Carlos.

"Resolvemos colocar a Hebe para cantar com ela mesma. Fizemos uma primeira gravação e colocamos o vídeo para ela ver e ir complementando os trechos da música, posicionada do outro lado do cenário. Ela não conseguia entender direito o que queríamos fazer."

Travesso lembra a "complicação" de uma novela também de 1964, da Record, em que Eva Wilma, 75, fazia trigêmeas ("Prisioneiro de um Sonho"). "Se as três "contracenavam", precisávamos gravar umas cinco vezes. Para colar as imagens, a atriz não podia se movimentar muito para não invadir o campo da outra personagem. Seus gestos tinham de ser sutis e sempre para frente."

A atriz tem ainda na carreira as célebres gêmeas Ruth e Raquel, da primeira versão de "Mulheres de Areia" (Tupi, 1973/74), refeita na Globo, em 1993, com Glória Pires, 46.

Se, para diretores e equipe técnica, gêmeos dão trabalho, para o ator a vida também não é fácil. "É muito texto para decorar, muita troca de roupa e tem que mudar de personalidade em segundos. Às vezes dou uns pulos antes de entrar em cena", conta Mateus Solano.

FOLHA - Quanto trabalho dá interpretar gêmeos em uma novela ?
MATEUS SOLANO -
Antes de começar a gravar, por um mês fiz uma preparação para achar as energias de cada um dos personagens. Depois, o trabalho é na hora de gravar e assistir para ver os acertos e erros. E a gravação não tem moleza. Quando eu contraceno comigo mesmo, faço um, troco de roupa, faço o outro, às vezes tem que trocar de roupa de novo para refazer em outro plano. É bem complicado e exige que não tenha dúvida quanto aos personagens.

FOLHA - Tem uma chave para trocar de um para outro em segundos ?
SOLANO -
É uma chave mesmo, entre aspas. Mas muita coisa ajuda. A história de cada um, os textos, que são completamente diferentes. O Jorge fala com mais formalidade, o Miguel faz sempre uma brincadeira, e a diferença de figurino é importantíssima. Mudo a roupa, olho no espelho e digo : "Vâmo lá".

FOLHA - Que cena foi mais difícil ?
SOLANO -
A da luta, em que o Jorge dá uma chave de braço no Miguel. Para ter noção do ritmo dos movimentos de cada um, costumo colocar um ponto eletrônico no ouvido com uma contagem. Se um está perseguindo o outro, corro contando e gravo essa contagem. Troco de roupa, ponho o ponto eletrônico para fugir no ritmo certo.

FOLHA - É estressante ?
SOLANO -
É esquizofrênico (risos). A sorte é que me preparei. É importante também o trabalho do meu dublê, o Gabriel Delfino, que é um ator. Sempre que os gêmeos contracenam, eu gravo com ele. É importante que seja um ator para dar o clima da cena. E ele tem que fazer os dois também, tem me ajudado muito. Costumo dizer que ele é meu verdadeiro irmão.

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