terça-feira, 31 de março de 2009

O filé mignon da segunda linha

O Quarto Branco foi uma das novidades deste ano.

Todo início do ano é assim: calor, recesso escolar, viagens e carnaval. Motivos suficientes para tirar o telespectador da frente da televisão. No verão, alguns programas têm sua audiência reduzida em mais de 30%, o que pode comprometer seriamente o seu faturamento. Diante desta evasão, comum nesta época, as emissoras começam a repensar suas grades. Reprisar os melhores momentos das atrações durante as férias dos apresentadores, por exemplo, tornou-se um luxo inadmissível. Os índices desabam, bem como as veiculações comerciais e as ações de merchandising. A ordem agora é deixar edições inéditas pré-gravadas. O público já não engole qualquer coisa, ainda mais com um dia de sol como concorrente.

Com orçamento reduzido e audiência em dispersão, as redes de TV têm que usar e abusar da criatividade para gerenciar formatos que ocupem a programação de forma econômica e lucrativa. A Rede Globo, por exemplo, interrompe, de janeiro a abril, a sua principal linha de shows. Nos anos 90 esta lacuna passou a ser preenchida com filmes e minisséries. Na última década, contudo, a emissora encontrou sua galinha dos ovos de ouro: um formato de reality show que revolucionou os hábitos dos telespectadores brasileiros. Assim nasceu o BBB, um suculento filé mignon em tempos de vacas magras.

Em sua nona edição, o programa já mostra sinais de desgaste. A audiência, na casa dos 35 pontos, permanece como uma das maiores da Rede Globo, mas bem distante das versões anteriores, que atingiram médias de 45. A surpresa é que, do ponto de vista comercial, será a mais lucrativa de todas, com uma receita recheada de cotas de patrocínio, merchandising, anúncios, espaços vendidos na casa, assinaturas de pacotes na TV paga, chat em telefonia celular, entre outros.

O Big Brother tornou-se um produto altamente rentável porque que investe em outras plataformas além da TV aberta: sistema Pay Per View (BBB 24h), programa na TV fechada (na Multishow), telefonia celular (para voto e obtenção de áudio dos participantes) e internet (portal Globo.com). Juntas, formam uma receita milionária, capaz de equilibrar o faturamento da emissora mesmo em tempos de crise.

O BBB tem seus méritos. Vive se reinventando. Destaque para os editores e os roteiristas, que criam enredos interessantes, como uma telenovela, com vilões, mocinhos e tramas paralelas. Um dos grandes apelos deste formato, contudo, está na possibilidade oferecida aos fãs de intervir nos rumos da narrativa. Assim, a audiência interfere na construção do produto a ser consumido e – pasmem – paga por isso. Seja pela ligação de celular, na qual a Rede Globo tem participação, seja gerando grande volume de acesso na página da internet, que é revertido em receita publicitária para a Globo.com.

Com relação ao conteúdo, o BBB abre amplas discussões para críticas, debates e discussões. No aspecto comercial, entretanto, o formato é unânime. Ele substitui cinco programas da linha de shows, com custo bem menor. Dá mais audiência e fatura muito mais. Explora outras plataformas, novas mídias e interage com o público. Talvez não seja uma diversão tão saudável e ética, que agrega conteúdo à família brasileira. No mundo dos negócios, entretanto, esses valores são apenas meros detalhes.

POR João Claudio Lins

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