sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Uma entrevista com Júlio Rocha

“Será que eu tenho cara de mau?”. É assim, entre risos, que Júlio Rocha, o Edgar de “Caras & Bocas”, fala sobre sua trajetória em novelas. Depois de aprontar todas na pele do JB de “Duas Caras”, ele atua como o comparsa de Judith (Deborah Evelyn) na trama de Walcyr Carrasco. Mas Júlio ri e diz que adora a chance de poder mostrar tantas facetas em tão pouco tempo. “Tenho muita sorte porque o vilão sempre pode fazer tudo. São infinitas possibilidades”, afirma o paulistano de 29 anos.
Júlio confessa que, apesar da “fama de mau”, também sentiu-se bem à vontade quando teve chance de fazer comédia. Ele atuou nos seriados “Casos e Acasos” e “Faça Sua História”, na pele do “nerd” Uesley e do taxista Jackson. “Adoro comédia. E isso vem de um tempo, quando fiz ’stand up comedy’”, recorda, referindo-se à sua participação no grupo teatral Terça Insana, em 2005.

Apesar de esbanjar alegria quando fala do atual momento profissional, Júlio não esquece a época em que teve de “ralar” para conseguir um papel fixo em novelas. Formado pela Escola Célia Helena em São Paulo, o ator fez participações em tramas como “Porto dos Milagres” e “Bang Bang”, até conseguir um papel fixo em “Duas Caras”. “Sou muito crítico com o meu trabalho. Desde o início coloquei na minha cabeça que teria de me superar em todos os sentidos”, pontua ele, que foi convidado por Jorge Fernando para “Caras & Bocas”. “Foi meu primeiro convite. Cheguei a chorar no telefone de tanta felicidade”, conta.

O Edgar é um interesseiro incorrigível. Como é interpretá-lo?
Eu me divirto. E existe uma forte crítica às pessoas que se comportam como ele, seja homem ou mulher. É um personagem difícil, porque ele é muito ambíguo, é quase como se eu vivesse dois papéis. Não há um dia em que eu não entre no estúdio tenso. Mas não é por insegurança com o meu trabalho, por achar que não estou preparado. Não é isso. Lembro que uma vez o Raul Cortez – com quem fiz a peça “Rei Lear”, de Shakespeare – me disse que o dia em que esse frio na barriga terminar, perde a graça. É por aí.

A imagem de galã incomoda você?
Não consigo me ver como galã. Mas acho que são os papéis que facilitam isso. Aí, acaba passando para o ator. Mas tiro onda. Quem não gosta de ser chamado assim? Principalmente para quem, quando criança, sempre terminava com a vassoura nas festinhas.

A profissão de ator é muito instável. Isso assusta você de alguma forma?
Vivi literalmente o que uma novela das oito proporciona em termos de reconhecimento. Depois, percebi isso diminuir só porque não estava mais no horário nobre. Vi que é importante estar sempre com o pé no chão e focado na essência do trabalho de ator, trabalhe você no teatro, cinema ou TV. Se eu for colocar na balança, as instabilidades mais difíceis que passei foram desde quando me formei até conseguir chegar lá. Mas foi tudo muito positivo e só me acrescentou.

Depois de tanta “ralação”, você conseguiu um contrato longo com a Globo? O que pretende realizar profissionalmente?
Para agora, escrevi o roteiro e vou dirigir a peça “A Prima de Susan Boyle”, que pode ser encenada tanto em um teatro quanto em um bar. É a história de uma menina que era o máximo e depois criou todos os tipos de fobias que existem. Quero ser sempre um artista criativo e inventivo, atuando, escrevendo e dirigindo para o teatro, o cinema e a tevê. Se a consequência do meu trabalho continuar sendo a popularidade, também quero reverter isso para pessoas que precisam de apoio.

Por: Fabíola Tavernard

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