Monik, numa visita a uma favela de Curitiba, e Osíris, com uma muda da horta que cultivavam
Osíris Del Corso, de 22 anos, e Monik Lima, de 23, namorados havia quatro anos, formavam aos olhos de todos um casal perfeito. Os dois dividiam o tempo entre a faculdade (ele, matriculado em dois cursos, ela em três) e o trabalho social. Vestidos de palhaço, visitavam bairros pobres de Curitiba para divertir crianças carentes. Cultivavam juntos uma horta, cuidavam dos pássaros criados soltos no quintal de Monik e, nos fins de semana, como tantos jovens brasileiros, procuravam trilhas na mata para desbravar. Foi essa atividade que os separou para sempre.
No fim da tarde do dia 31 de janeiro, Osíris e Monik caminhavam pela picada que leva à deserta Praia dos Amores, no Morro do Boi, em Matinhos, no litoral paranaense. Um homem os rendeu com um revólver calibre 38 e os levou a uma gruta a 50 metros da praia. Quando percebeu que a namorada ia ser estuprada, Osíris reagiu e levou dois tiros. A garota, praticante de jiu-jítsu e capoeira, golpeou o agressor, derrubando-o no chão. Mesmo caído, o homem a alvejou pelas costas e fugiu.
A bala atravessou a coluna cervical e perfurou os dois pulmões de Monik, deixando-a imóvel, mas consciente. Ela viu que o namorado estava morto. Cerca de quatro horas depois, o agressor voltou ao local para estuprá-la. Monik só foi encontrada na tarde do dia seguinte. Até a sexta-feira, seu estado geral era estável. Segundo o diretor da UTI do Hospital Vita de Curitiba, Hipólito Carraro Júnior, os pulmões estão machucados por causa das perfurações. Monik estava consciente, mas abatida e impossibilitada de falar, por causa dos aparelhos. Tomografias mostraram que ela corre risco de ficar paraplégica.
Antes de ser internada, Monik fez questão de dar detalhes do agressor: um homem gordo, de 1,80 metro, olhos castanhos e um “rosto que parece uma bola de futebol”, segundo a vítima. Para Luiz Alberto Cartaxo, delegado que comanda as investigações, o criminoso premeditou o estupro. “Uma testemunha diz que um homem com a mesma descrição esteve na trilha no dia anterior”, afirma o delegado. “Ele estaria à espera de uma mulher.” Até a sexta-feira, a principal pista era uma camisa que, segundo os policiais, confere com a descrição feita pela garota. “É uma camisa polo amarela, com marcas de sangue”, diz Cartaxo. Um cão farejador seguiu o rastro do suspeito, que teria fugido por uma praia vizinha, passando despercebido pelos banhistas. A polícia também espera que as câmeras de segurança dos prédios próximos ao início da trilha tenham registrado imagens do estuprador.
Osíris e Monik eram conhecidos na sociedade curitibana. Estudante de Direito e ciências sociais, o rapaz era presidente e embaixador da paz do Rotarct, a ala juvenil do Rotary Clube de Curitiba. Monik o antecedera na função e é a atual vice-presidente da entidade. Ela cursa farmácia, educação física e bioquímica industrial. Filha de um advogado dono de terras, começou a trabalhar aos 17 anos numa farmácia da família – emprego que largou no ano passado, para dar conta dos estudos. “Ela sempre foi uma menina muito responsável”, diz o pai, Lourival Lima. “Monik sabia dividir seu tempo, e nunca tive de chamar sua atenção.”
Juntos, os namorados planejavam criar uma biblioteca itinerante nos bairros pobres de Curitiba. Osíris já havia conseguido cerca de 800 livros e arrecadava dinheiro para a compra do caminhão da biblioteca. Ele também liderava um projeto de coleta de alimentos para distribuição na capital paranaense. Todas as doações arrecadadas pelo casal eram guardadas na casa de Monik, que transformou um dos quartos em despensa. No cômodo, ainda estão embalados os alimentos que seriam distribuídos quando o casal voltasse do fim de semana no litoral.
Eles haviam viajado para Matinhos com o pai de Osíris – que foi quem os localizou na manhã de domingo. Ele havia ligado para o Corpo de Bombeiros ainda no sábado, depois de estranhar a demora no retorno do casal. Como já era noite, as buscas só começaram na manhã do dia seguinte. O pai, preocupado, antecipou-se e contratou um guia para levá-lo ao Morro do Boi. Às 10h30, eles encontraram Osíris morto e Monik ferida.
A Praia dos Amores, onde eles estavam, tem apenas 200 metros de extensão. Como indica o nome, é procurada por casais apaixonados devido ao isolamento. A trilha que leva à praia, onde o casal foi abordado pelo criminoso, é mal demarcada e coberta por vegetação. “Ninguém poderia ver ou ouvir o que aconteceu”, diz o delegado Cartaxo.
O secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, afirma que o crime foi “um fato isolado, fruto do comportamento de uma pessoa, e não culpa direta da falta de segurança”. Mas outros crimes ocorreram nas mesmas circunstâncias em outras trilhas no Estado (leia o quadro ao lado). Fora do Paraná, são comuns os relatos de assaltos e crimes violentos em trilhas de regiões como a Serra do Mar paulista, a Floresta da Tijuca e a Pedra Bonita cariocas e os arredores de Belo Horizonte. O caso semelhante mais conhecido dos últimos anos foi dos adolescentes Liana Friedenbach e Felipe Caffé, mortos quando acampavam em uma casa abandonada em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, em 2003.
Para prevenir crimes assim, a recomendação é redobrar o cuidado com trilhas e acampamentos. “Sempre pegue referências sobre o local com a polícia, informe parentes e amigos sobre o destino e a duração do passeio e caminhe sempre em grupo e durante o dia”, afirma o secretário Delazari. Outra recomendação antes de fazer uma trilha é procurar pessoas que conheçam bem suas condições de segurança.
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