sábado, 10 de janeiro de 2009

ENTREVISTA DA SEMANA: "Maysa foi uma mulher à frente de seu tempo em tudo"

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Em entrevista a ÉPOCA, Manoel Carlos, autor da minissérie que vai contar a vida da cantora na TV Globo, fala de sua admiração pela personalidade forte da artista e diz que a atração vai resgatar a imagem de Maysa

ÉPOCA - É verdade que o senhor só começou a escrever a minissérie depois de encontrar a atriz que fosse viver a Maysa? Por quê?
Manoel Carlos -
Esse é um processo que eu sigo em tudo que escrevo para a televisão. Preciso ter um corpo, um rosto diante de mim, para escrever o que um personagem deve dizer. O que dá vida ao meu texto é o ator, a atriz.

Arquivo
Manoel Carlos pesquisou os diários escritos por Maysa para escrever a minissérie

ÉPOCA- A Larissa Maciel tem uma incrível semelhança com Maysa. Isso foi essencial para que ela ganhasse o papel?
Manoel -
Isso foi importante, não essencial. Procurávamos alguém que pudesse interpretar a Maysa e não imitá-la. Marion Cotillard, por exemplo, que fez Edith Piaf no cinema, não tem nada a ver com a cantora francesa, mas, por ser uma grande atriz, conseguiu um resultado extraordinário. Como a Larissa é parecida, isso ajudou a compor o papel, mas, o que pesou, de maneira definitiva, foi o fato de ela ser uma atriz de muito talento.

ÉPOCA - Maysa sempre guardou tudo que saía na mídia sobre ela e registrou sua vida em diários. O senhor recorreu a esse material para escrever a minissérie?
Manoel -
Essa foi a matéria-prima do meu trabalho: o que ela deixou guardado e escrito. Foi com esse acervo que contamos para desenvolver a história e decidir o que usar e o que jogar fora. Por ser um material para vinte capítulos e só tivemos de escrever nove, sobrou muita coisa. Mas tínhamos que fazer essa triagem, que acabou durando mais tempo do que escrever propriamente a minissérie.

 Divulgação
A atriz Larissa Maciel em cena da minissérie Maysa

ÉPOCA - O senhor foi amigo de Maysa?
Manoel -
Não. Como trabalhamos nas mesmas emissoras paulistas, cruzávamos nos estúdios, nos corredores e nos cafés. Ela também participou de programas meus na Record e na Excelsior. Uma noite fomos - um grupo de companheiros e eu - até a casa dela, numa reunião festiva qualquer, onde rolou muita música e muita bebida. Maysa era fulgurante e sedutora. Prendia com os olhos.

ÉPOCA - Contar a história da Maysa também implica contar a história de outras pessoas famosas ou conhecidas do público. Vocês tiveram alguma dificuldade em relação a isso?
Manoel -
Não. Ninguém nos impediu de qualquer menção. Obviamente, tive muito cuidado e fui discreto na abordagem de pessoas reais, algumas vivas até hoje.

ÉPOCA - A vida da Maysa é repleta de casos amorosos e alguns escândalos. O senhor ficou preocupado em não passar uma imagem negativa dela na minissérie?
Manoel
- Eu contei tudo o que quis contar, sem nenhuma preocupação que isso pudesse ser negativo para a imagem dela. Tudo o que está na minissérie foi vivido por ela e não tentei amenizar qualquer fato. Mas é preciso lembrar que não se trata de uma biografia clássica, acadêmica, mas uma espécie de ensaio meu sobre a vida da Maysa. A realidade, no caso, foi ficcionada o quanto eu achei necessário.

ÉPOCA - Se pudesse definir Maysa em poucas palavras, quais seriam?
Manoel -
Foi uma precursora da liberdade feminina. Valente e contestadora. À frente de seu tempo em tudo.

ÉPOCA - O senhor trabalhou na equipe A da TV Record e participou da produção de programas da emissora numa época que havia muitos musicais em suas programação. É verdade que existia muita rivalidade entre o elenco de cantoras da época como Maysa, Elis Regina e Elizeth Cardoso?
Manoel -
Eu fui o produtor e diretor de O Fino da Bossa, com a Elis, e de Bossaudade, com a Elizeth. Elas duas, entre si, assim como Maysa, se admiravam mutuamente, mas se bicavam muito também. Havia concorrência, disputas, rivalidade, mas tudo sob um manto cordial e hipócrita, como normalmente acontece no meio artístico do Brasil e de qualquer lugar do mundo.

ÉPOCA - O senhor acha que a Maysa tem o reconhecimento que merece?
Manoel -
Maysa ficou esquecida, datada e sua música sumiu do rádio e da televisão. Dela ficaram mais as lendas, as histórias inventadas, do que sua voz e personalidade, que era o que mais interessava. Isso acontece com muitos artistas. Mas a minissérie há de trazê-la de volta e o público vai gostar muito de conhecê-la.

ÉPOCA - Qual outra grande cantora brasileira daria uma boa minissérie? Já pensa em fazer alguma outra?
Manoel -
Eu gostaria muito de fazer as vidas da Angela Maria e da Dalva de Oliveira, duas das mais fascinantes cantoras brasileiras. Quem sabe consigo realizar essas duas tarefas?

ÉPOCA - Quais são os planos para 2009. Alguma nova novela?
Manoel -
Ainda não sei se a minha próxima novela vai entrar em 2009 ou em 2010. Caso fique para 2010, vou me atirar imediatamente no trabalho de concluir o roteiro, para cinema, de Presença de Anita, que o Daniel Filho vai dirigir. Caso escreva novela no próximo ano, então o filme ficará para 2010. Acredito que ainda em janeiro isso estará definido.

ÉPOCA - É verdade que o senhor teria chamado a atriz Taís Araújo para viver sua próxima "Helena'?
Manoel -
Sou grande admirador da Taís. Eu a considero uma das melhores atrizes brasileiras, com um potencial que ainda não foi explorado totalmente. Penso numa história para ela, em criar uma Helena especialmente para o seu perfil, mas ainda não posso afirmar que seja a minha próxima novela ou uma outra ainda para o futuro.

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