Tiro amigo na Record

Uma verdadeira caça às bruxas foi instalada informalmente nos bastidores da Record. Executivos querem localizar os focos de informações negativas que começaram a vazar diariamente para a imprensa deixando clara a insatisfação de muitos profissionais e problemas pontuais na administração de vários setores. Esses executivos afirmam que “virou moda falar mal da Record e que muitos ignoram o conteúdo de seus discursos, repetindo apenas o que ouvem nos corredores”. É o famoso tiro amigo, que mata mais e é bem mais dolorido do que o do inimigo.
Essas informações negativas apontam para muitas direções, entre elas (talvez a mais importante) o fato do profissional enxergar a Record apenas como uma empresa onde diariamente presta serviço e no final do mês recebe seu salário, sem um envolvimento maior. Diferente da Globo ou do SBT, que também possuem problemas, mas onde os funcionários “vestem a camisa”.
Outro ponto importante nessa discussão é a relação entre crescimento, qualidade de produtos e apostas artísticas. Alguns executivos da Record já perceberam que para aumentar a participação no mercado será necessário consolidar os atuais números através da qualidade do que entra no ar, principalmente na teledramaturgia, onde os exageros aparecem mais nitidamente. “Caminhos do Coração” começou bem com meia dúzia de mutantes e alguns efeitos especiais, que, mesmo longe dos padrões de Hollywood, impressionaram o telespectador. Depois, na ganância por números, os mutantes se multiplicaram, surgiram ETs, abusaram dos efeitos e muitas imperfeições ganharam o vídeo e se transformaram em motivo de piada.
Para crescer será preciso compreender que não adianta esticar um sucesso, pois ele tem o seu tamanho e, se o limite é ultrapassado vira um grande fiasco ou uma eterna piada de mau gosto. Por isso, informalmente alguns atores dizem que aceitam convites da Record para papéis importantes em novelas, ganham um bom dinheiro e depois regressam para a Globo mesmo que para interpretar uma empregada, um motorista ou o coadjuvante do coadjuvante. Só para que não fiquem eternamente como vampiros, homens sono, lobisomem e protagonistas das piadas de seus amigos.

por José Armando Vannucci