quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

As maiores vilãs e vilões da teledramaturgia


Enquanto o cinema nos deu Hannibal Lecter, um canibal sedutor que, apesar de suas atrocidades, conseguiu seduzir milhões em todo o mundo, a tevê brasileira produziu alguém menos sangüinária, porém, igualmente cruel: Flora Pereira da Silva, interpretada por Patrícia Pillar, na novela A Favorita, da Globo. Mas, o que Flora e Hannibal Lecter têm em comum?

Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas - O Psicopata Mora ao Lado (Ed. Objetiva, R$ 32,90), que serve de guia para Glória Perez, autora de Caminho das Índias, na construção de Yvone, personagem de Letícia Sabatella, os dois, mesmo utilizando métodos diferentes para conseguir seus objetivos, não passam de farinha do mesmo saco.

“A Flora é uma psicopata grave, nota 10, feita brilhantemente por Patrícia Pillar. E ela reina na novela A Favorita. Não há ninguém que chegue aos seus pés, nas maldades”, definiu a escritora a OFuxico, deixando claro que Silveirinha (Ary Fontoura) e Dodi (Murilo Benício), embora maus e parceiros de Flora, não são psicopatas.

“Eles são apenas criminosos. Assim como Hannibal Lecter, que manipulava a agente do FBI (Clarice Starling) para conseguir seus objetivos, Flora também os utiliza para que suas maldades funcionem. Silveirinha e Dodi precisam de uma mente perversa para conduzi-los, e essa mente é Flora”, explicou a psiquiatra a OFuxico, esclarecendo a diferença entre psicopatia e pura maldade:

“O psicopata é caracterizado pela incapacidade afetiva em relação ao outro: não tem o que a gente chama de empatia, de se colocar no lugar do outro. Ele é 100% razão e zero emoção. Nunca vão sentir amor, somente excitação e prazer, o que pode confundir o público", disse a psiquiatra, o que explica a incapacidade de Flora sentir carinho até pela própria filha, Lara (Mariana Ximenes).

"Psicopatas só irão se mover em função de poder, de status e de prazer. São mentirosos contumazes. Mentem com uma capacidade absurda e, quando são pegos na mentira, mentem ainda mais, na maior naturalidade. Eles têm essa incrível capacidade de articulação, de sedução dos outros e têm total ausência de culpa. Remorso, não sentem algum. E tudo isso é derivado de uma condição primária: a incapacidade para ter afeto. A psicopatia não é uma doença. É uma maneira de ser. Isso é importante para diferenciá-los dos doentes mentais, que se desconectam da realidade, como foi o caso de Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), em Senhora do Destino”, explicou a médica.

Segundo a autora de Mentes Perigosas, a dramaturgia brasileira está vivendo uma onda de ode aos psicopatas, copiando a moda do cinema norte-americano, que sempre simpatizou com esses tipos, devido aos mistérios que os cercam.

Glória Perez, autora de Caminho das Índias, a próxima novela das nove da Globo, que estréia em janeiro de 2009, destaca que o livro da psiquiatra tem sido “utilíssimo para a construção da personagem psicopata , a Yvone, interpretada pela Letícia Sabatella”.

Convidada por OFuxico, a psiquiatra analisou diversos vilões da dramaturgia brasileira e, assim, acabou chegando à conclusão de que muitos são psicopatas. Porém, as mulheres, quando comparadas aos homens, dão um banho no quesito maldade. Tanto que Flora ocupa o topo da lista. Confira:

MULHERES

Flora Pereira da Silva (Patrícia Pillar, A Favorita)

“Assim como Hannibal Lecter, Flora é incapaz de sentir amor pelos que a cercam, e isso inclui a filha Lara (Mariana Ximenes) e Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia). No caso do Hannibal, muitos chegaram a achar que ele poderia amar a agente do FBI (Clarice Starling, interpretada por Jodie Foster). Mas, aquela atenção que ele dava a ela era apenas um ato de exibicionismo. Era para se mostrar intelectualmente, se vangloriar. A Flora não gosta do Zé Bob. Ela o quer por luxúria, como um brinquedo caro e difícil de ser conquistado. Flora é uma psicopata grave pois, além de matar, ela sente prazer em ver alguém morrer, como foi no caso da personagem de Juliana Paes, ao desligar os aparelhos e vê-la sufocar. Ela quer a sofisticação da perversidade. Flora é uma psicopata grave. Durante um tempo, achei que ela fosse moderada, que iria usar o Dodi e o Silveirinha para conseguir realizar suas maldades. Mas, com o passar da trama, verifiquei que ela mesma põe a mão na massa e sente enorme prazer em ver suas vítimas morrendo”.

Laura (Cláudia Abreu, Celebridade)

"Com Odete Roitman (Beatriz Segall) e Bia Falcão (Fernanda Montenegro), forma a tríade das psicopatas comunitárias mais perfeitas da dramaturgia brasileira. Cláudia Abreu arrasou. Laura manipulou o personagem de Márcio Garcia, um criminoso meio Silveirinha, meio Dodi, para concretizar suas maldades. Interessante ressaltar que ela não o amava. Aquele choro, na morte dele, era de raiva por ter perdido um soldado fiel, um brinquedo de luxo que ela adorava. Era como se tivesse tipo perda total em seu Jaquar".

Bia Falcão (Fernanda Montenegro, Belíssima)

"Psicopata comunitária perfeita. Ou seja, era uma boa chefe, líder, mãe de família, muito bem-sucedida na sociedade. Ela torturava a filha e os demais e, mesmo pela netinha, não tinha amor algum. Psicopata disfarçada de executiva. Nota 10”.

Silvia (Alinne Moraes, Duas Caras)

“Achei, em um momento da trama, que era borderline (as histéricas que são capazes de loucuras, de qualquer maldade, para preservar o objetivo de paixão). Mas depois, ela se mostrou perversa na forma total. Essa personagem se perdeu totalmente. Começou muito boazinha, virou histérica, ficou louca (psicótica) e acabou psicopata".

Maria de Fátima (Glória Pires, Vale Tudo)

"Psicopata fantástica, do tipo comunitária. Usou as pessoas, mentiu com a maior cara de pau, deu seus golpes sem qualquer escrúpulo e manipulou as pessoas, de forma a conseguir contornar tudo e se dar bem no final".

Cristina (Flávia Alessandra, Alma Gêmea)

"Era perfeita. Mas, na vida real, a loucura no final não ocorreria. Somente no fim da novela ela deixou de ser psicopata, transformando-se em louca".

Raquel (Glória Pires, Mulheres de Areia)

"Psicopata perfeita. Nota 10. Foi coerente do início ao fim. Ela foi uma criança, adolescente e adulta perversa, fria e calculista, com incrível capacidade para mentiras e sedução. E acabou como toda boa psicopata, não enlouquecendo e sendo coerente com sua história".

Marta (Lilia Cabral, em Páginas da Vida)

"Psicopata maravilhosa. Só não gostei no final, quando começou a ver a filha morta e deu uma surtada. Mas ela, como psicopata, era muito coerente: humilhava a filha, o marido, o neto e quem passasse por sua frente, sem qualquer traço de remorso ou sentimento pelos demais. E, quando lhe convinha, se fazia de vítima, confundindo os demais. E ela mantinha o marido ao seu lado, só porque precisava de alguém para humilhar, o que lhe dava grande prazer. Psicopata feita com muita maestria".

Yvone (Letícia Sabatella, Caminho das Índias)

“A personagem que a Glória Perez está preparando para a Letícia Sabatella (Yvone) é uma psicopata comunitária, ou seja, aquela que vive muito bem com todos, que pratica suas maldades, mente, porém, nunca mata. Ela vai ser uma psicopata sedutora, vai dizer que sofreu na infância, sendo que, na realidade, é justamente o contrário. O mais interessante é que a Letícia é uma pessoa doce, e vai usar sua candura para surpreender o público. A Yvone, se tiver que eliminar alguém, o que não será o caso, irá induzir uma pessoa para fazer o que pretende. Jamais sujará suas mãos”.

Violante (Drica Moraes, Xica da Silva)

"Psicopata nota 10. Eu adoro a Drica Moraes fazendo vilã. Ela tinha prazer em destruir, tomar o poder, disputar territórios. E usava os outros para matar".

Bárbara (Giovanna Antonelli, em Da Cor do Pecado)

"Muito legal, foi coerente muito como psicopata, o tempo todo. Não surtou, não virou boazinha. Só tinha uma coisa: às vezes, tinha um senso de humor que parecia que confundia os outros, pois ela própria ria de suas maldades. Como psicopata, está no meio-termo. Nota 9".

HOMENS

Leôncio (Leopoldo Pacheco, A Escrava Isaura)

“Com certeza, é piscopata e do grau mais alto. Nota 10. Todas as suas maldades eram recheadas de requinte. Caso Isaura (Lucélia Santos), aceitasse seus apelos e se casasse ou se entregasse a ele, sua vida seria ainda pior. Porque ele seria aquele tipo de marido que tortura, que faria da esposa o grande brinquedo particular. E ele tinha prazer em ver o sofrimento que causava no rosto dela, e nos que atravessavam seu caminho”.

Olavo (Wagner Moura, Paraíso Tropical)

“Esse era psicopata mesmo, sem dúvida alguma, mesmo nos momentos em que se divertia com a Bebel (Camila Pitanga), gerando empatia no público. Foi muito bem feito, bem escrito e que, por isso, passava despercebido como psicopata. A gente achava que ele tinha carinho pela Bebel. Mas, no final, ele não hesitou em colocar a cabeça dela a prêmio. Ele tinha prazer com ela, não amor. Aquilo não era afeto”.

Felipe Barreto (Antônio Fagunes, O Dono do Mundo)

“Uma das primeiras vezes que me chamou a atenção sobre os psicopatas nas novelas foi o personagem de Antônio Fagundes, em O Dono do Mundo, que não se intimidava em enganar a mulher (Glória Pires), os clientes, a amante e quem passasse pela frente. Antônio Fagundes nunca foi tão sedutor e glamouroso. Nota 10”.

Marconi Ferraço (Dalton Vigh, Duas Caras)

“Tinha tudo para ser um dos maiores psicopatas mas, no meio do caminho, até pela questão da audiência, seu personagem se perdeu. Marcondes Ferraz era um psicopata que, no final, ficou bom. Justificou-se sua maldade com a infância atormentada. E com os psicopatas a coisa não funciona assim. Dependendo da audiência, a grande maioria dos vilões acaba sendo justificada ou enlouquecendo. E psicopatas não ficam bonzinhos ou enlouquecem. Se tivesse uma continuação de Duas Caras, provavelmente veríamos a Maria Paula (Marjorie Estiano), que lhe deu outra chance no final, sendo abandonada cruelmente novamente. Porque o psicopata não tem emoção, funciona apenas na razão".

Donato Menezes (Miguel Falabella, As Noivas de Copacabana)

"Um psicopata com o máximo da agressividade. Ele é dos psicopatas mais raros, porém, mais fácil de serem pegos, pois usam métodos e se repetem, durante a execução das vítimas. São comparados a animais selvagens pois, para eles, não basta matar. Precisam esquartejar, tirar a cabeça etc. Um psicopata moderado, ao contrário, arruma um matador para fazer o trabalho sujo para ele”.

PARECE, MAS NÃO É

Nazaré Tedesco (Renata Sorrah, Senhora do Destino)

"Não era psicopata. Tinha uma coisa mais de psicótica mesmo, de loucura. A Nazaré tinha uma hipersexualidade, era meio bipolar. E o psicopata típico não tem muito grilo com o sexo. O psicopata pratica o sexo para dominar o outro, aumentar seu ego, se vangloriar. E isso nos faz lembrar do Olavo, de Wagner Moura. Geralmente, o homem psicopata é brilhante na cama. Por isso, muitas mulheres ficam presas a ele. Como ele não se deixa levar, estuda a mulher, vê onde ela mais tem prazer e usa isso como arma de controle. Olavo usava a Bebel para as artimanhas dele. E usava o sexo para dominar outras mulheres, como a noiva (Guilhermina Guinle), que lhe garantia status na sociedade".

Silveirinha (Ary Fontoura, A Favorita)

“É um criminoso, não é psicopata. Para funcionar, ele e Dodi precisam de uma mente perversa conduzindo-os, que é a Flora. Vale lembrar que o psicopata não precisa ser o que mata, mas precisa ser aquele que arquiteta, que manda. E é interessante ver que eles só começaram a ser criminosos, depois que ela começou a mandar. Eles só querem se dar bem. E é o que acontece na maioria das penitenciárias: cerca de 20% dos detentos são psicopatas e esses mandam na maioria, liderando rebeliões e maldades. Assim como Flora, que chegou a ficar presa, eles lideram o restante e os transformam em soldadinhos”.

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