quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Especial 'O ataque das superbactérias'- parte 3


Uma nova geração de pragas resiste aos antibióticos até se tornar invencível. Por que todos nós estamos vulneráveis

Rogério Albuquerque
SOBREVIVENTE
Paula sofreu um grave acidente e ficou em coma durante 22 dias. Uma infecção hospitalar tornou sua recuperação ainda mais improvável. Hoje ela comemora a vitória: “Foi como ganhar na Mega Sena”

Para agravar o quadro, há pouquíssimo interesse da indústria farmacêutica no desenvolvimento de novos antibióticos. A aprovação de novos agentes antibacterianos pela FDA, a agência que regula medicamentos nos EUA, caiu 56% nas últimas duas décadas. As empresas estão mais interessadas em criar remédios que devem ser consumidos por toda a vida, como os antidepressivos e as drogas contra o colesterol. O custo total da resistência aos antibióticos para a sociedade americana é de US$ 5 bilhões a cada ano. Tratar patógenos resistentes freqüentemente requer drogas mais caras e o prolongamento da estadia no hospital. A cada ano, cerca de 2 milhões de pessoas adquirem infecções bacterianas nos hospitais americanos. Noventa mil morrem. Cerca de 70% das infecções são resistentes a pelo menos uma droga.

Não espere encontrar dados tão objetivos no Brasil. Infecção hospitalar ainda é um assunto tabu. Nem autoridades sanitárias nem microbiologistas ficam à vontade para falar sobre o tema. Faltam informações básicas. O Ministério da Saúde não tem uma estimativa sobre o número de casos ocorridos no país anualmente. Nem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Não existe no país uma definição de critérios do que seja infecção hospitalar. É preciso melhorar esse sistema”, diz Heder Murari Borba, gerente-geral da área de tecnologia em serviços de saúde da Anvisa.

A resistência bacteriana aos antibióticos custa US$ 5 bi por ano nos EUA

Os surtos recentes de infecção por micobactéria servem de amostra do que poderia ocorrer no país caso uma grave infecção como a MRSA atingisse a população brasileira. Mais de 2 mil pessoas foram infectadas pela Mycobacterium massiliensis nos últimos meses em cirurgias estéticas ou feitas por videolaparoscopia. O problema foi provocado por cânulas infectadas. Não houve registro de mortes, mas as vítimas sofreram graves feridas pós-operatórias. A mesma cepa da bactéria já afetou pacientes nos seguintes Estados: Pará, Goiás, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná. “Parece ser o maior surto já ocorrido no mundo, mas ainda não sabemos qual foi a causa”, diz Borba, da Anvisa. Embora o problema esteja ocorrendo há vários meses, apenas a partir da próxima semana a Anvisa vai passar a exigir a notificação compulsória dos casos. A agência também editará uma norma técnica para padronizar o tratamento e evitar o uso indiscriminado de antibióticos contra essa cepa.

Há pouca informação também sobre o controle das demais infecções nos hospitais. Eles são obrigados por lei a manter comissões de prevenção de infecção hospitalar. Nem todas as instituições mantêm esses grupos funcionando adequadamente. Nem os hospitais mais conceituados, que dispõem de comissões atuantes e competentes, revelam o número de casos de infecção hospitalar que enfrentam a cada ano. Os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, em São Paulo, não aceitaram divulgar esses dados. Ambos alegam que os clientes que fizerem essa pergunta receberão a informação. Portanto, da próxima vez que precisar internar algum familiar em um hospital, faça o teste da transparência. “Conhecer esse índice é um direito do paciente”, diz Borba.

Infecções por bactérias resistentes existem a todo momento e até nos melhores hospitais. “Algumas instituições informam que têm taxa zero de infecção hospitalar”, diz Denise Brandão de Assis, diretora-técnica da divisão de infecção hospitalar do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. “Isso é ruim. É sinal de que o hospital não está investigando direito. Se investigar corretamente, vai encontrar infecção.”

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