sábado, 29 de novembro de 2008

ENTREVISTA DA SEMANA: Reynaldo Gianecchini




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Para viver seu personagem no filme Entre Lençóis, que estréia dia 5 de dezembro, Reynaldo Gianecchini passou 12 dias andando seminu pelos corredores de um motel no Rio de Janeiro. Sacrifício necessário para viver seu personagem, diz Gianecchini. "Era complicado parar e colocar tapa-sexo, põe, tira... então eu fiz inteiro nu, mesmo". Entre Lençóis é uma mistura de Eu Sei Que Vou te Amar com 9 e 1/2 Semanas de Amor: duas pessoas comprometidas têm uma relação fortuita, passam a noite num motel e descobrem que se amam. O par de Gianecchini é a atriz Paola Oliveira – que também passou os 12 dias sem roupas. Nada suficiente para rolar um clima entre os dois. "É difícil ter clima na filmagem, tem um monte de gente, é picotado", diz o ator. Nesta entrevista Gianecchini nega os boatos de um affair entre ele e Paola Oliveira, diz que vai ficar um tempo longe da televisão, e relativiza a discussão em torno da nudez no filme: "A gente nasceu pelado mesmo. Não tem muito problema pagar um bumbum".

Qual sua expectativa em relação à estréia do filme?

Reynaldo Gianecchini – Eu procuro não ter muita expectativa, para evitar frustrações. Não penso muito nisso. Posso dizer que o filme é legal. É como se alguém estivesse espiando pelo buraco da fechadura e pegasse o momento de intimidade entre duas pessoas que estão se entregando. É um filme que mexe muito comigo. Eu já assisti ao filme umas quatro vezes, desde o primeiro corte. Ele mexe com minha fantasia. Eu saio da sessão sempre com vontade de dar um beijo na boca de alguém. É uma delícia. Cinema é isso, arte é isso... tocar a pessoa de alguma forma.

O filme tenta recuperar um erotismo há algum tempo perdido no cinema nacional?

Gianecchini – O erotismo nesse filme é completamente diferente daquele que existia na época da chanchada. Não tem nada a ver com a pornochanchada. O erotismo existe, é necessário. E, no filme, o nu está ligado ao romance, não é forçado. Conseguimos esse erotismo na medida certa, sem expor tanto a gente. Isso é importante para que o cinema brasileiro não fique só nessa coisa da pobreza, da violência, a estética social. Isso é muito marcante no Brasil, e é importante ser feito. Mas é legal que histórias simples, histórias de amor, também sejam contadas.

Esse tipo de filme nacional não padece de certo novelismo? Ou seja, uma influência muito forte da televisão, seja na atuação, na estética?

Gianecchini – Um pouco. Existem alguns planos no cinema, plano seguido de contraplano, que são da linguagem televisiva. O cinema, geralmente, tem outra linguagem com a câmera, revela as coisas de outra forma, mais artística. Mas é uma opção. Eu adoro planos cinematográficos incríveis, longos, uma obra de arte. Mas, no final das contas, cara, todo mundo está mesmo interessado é numa história bem contada. Uma história que comunica. Então é uma besteira ficar falando de influência da televisão no cinema nacional. Se o filme consegue se comunicar, é isso que vale. Eu adoro filmes artísticos, planos longos, tipo irmãos Cohen. Mas se o filme não comunicar, não adianta nada. Um filme que toda a crítica meteu o pau: Mamma Mia! Você sai do cinema querendo dançar, transformado. Eu, como ator, quero isso: conseguir transformar as pessoas. Então não dá pra falar mal de um filme assim.

Entre Lençóis foi quase todo rodado em um motel. Não foi estranho?

Gianecchini – Foi engraçado. Porque era um set de filmagem atípico. Tinha todo o lance de um set de filmagem normal, gente indo pra lá e pra cá, luzes no quarto. Mas o motel estava funcionando normalmente – tudo mesmo. Então a toda hora éramos interrompidos por barulhos e festinhas de outros quartos (risos). Era um clima meio de alegria. Às vezes esquecíamos que era um set de filmagem, saíamos na varanda do motel, de frente para a praia, e algum pedestre olhava lá de baixo, do calçadão, apontava e ria. Era muito engraçado.

E a questão da nudez? Você ficou a maior parte do tempo nu?

Gianecchini – Foi. Bom, nunca é confortável ficar nu na frente de dezenas de pessoas. Mas ao mesmo tempo, como ator, foi uma experiência interessante. O ator tem que trabalhar bem essa questão, não pode ter pudor. Meu pudor é sempre com o bom gosto. Até onde eu devo me expor para contar essa história? Até onde preciso mostrar? Neste filme foi tudo muito discutido, conversado. Rolou uma confiança grande, então a nudez não foi um problema. Quebramos o gelo do constrangimento causado pela nudez. Porque, afinal, a gente nasceu pelado mesmo. Não tem muito problema em pagar um bumbum.

Você disse não ter usado tapa-sexo, certo?

Gianecchini – Numa ceninha ou outra, eu até usei. Mas era complicado parar e colocar tapa-sexo. Põe, tira, põe... então eu fiz inteiro nu mesmo.

Rolou algum clima entre você e a Paola Oliveira?

Gianecchini – É difícil ter clima na filmagem. Tem um monte de gente, é picotado, os gestos e palavras são estudados e ensaiados. É quase uma coreografia. O cinema é feito muito desconectado. A cena que as pessoas vêem perfeitinha na tela demora horas para ser feita, é filmada várias vezes. Então todo aquele clima que as pessoas vêem na tela não aconteceu de verdade. O filme passa aquela sensação de erotismo, aquele clima constante entre os dois, mas as cenas são filmadas picotadas. Você grava, pára, filma outro plano, vem a maquiadora ajeitar seu cabelo... Não tem aquele clima de tesão.

E fora do set de filmagem também não há nada entre vocês?

Gianecchini – Ah... Isso não tem nada a ver. Somos colegas. Foi tudo profissional na filmagem. Não teve nada demais.

Então você continua solteiro?

Gianecchini – Ai, Meu Deus... Olha, não falo da minha vida pessoal.

Tudo bem... Voltando à questão da nudez, o ator Pedro Cardoso, recentemente, se manifestou contra o nu gratuito no cinema. O que vocês pensam sobre isso?

Gianecchini – Eu não sou tão radical quanto o Pedro. A nudez não é uma questão para mim. Comecei minha carreira no Teatro Oficina, em São Paulo, com o José Celso Martinez Côrrea. E o Zé Celso todo mundo sabe: é nu o tempo inteiro, nudez é a coisa mais natural do mundo. Saí do Oficina porque não me sentia à vontade, havia algumas cenas fortíssimas, masturbação... O nu só é agressivo quando ele afronta, quando é desnecessário, fora de contexto, apelativo. Já vi inúmeros trabalhos de nu que gostei muito, no teatro, no cinema. Em Entre Lençóis era impossível não ter nu: são duas pessoas descobrindo que se amam num quarto de motel! Então, não é nada agressivo, e muito menos desnecessário.

Incomoda tanta polêmica em torno da questão da nudez em Entre Lençóis?

Gianecchini – O ruim é o filme virar isso. E no Brasil tem essa tendência, por isso que eu não quis o nu frontal. A genitália do fulano fica maior que o filme. O Entre Lençóis tem esse lado da nudez, mas mesmo que as pessoas venham ao cinema ver a minha bundinha, ou a bundinha da Paola, vão se deparar com uma história intrigante. Se os espectadores saírem levando alguma coisa, já estou satisfeito.

Você disse numa entrevista que a televisão massifica o ator. Essa "massificação" contribui para críticas negativas a trabalhos seus fora da TV? A crítica fica contaminada por isso?

Gianecchini – Sem dúvida. Por causa dessa massificação, as pessoas vêm ao cinema com muito preconceito assistir filmes com atores de televisão. Você fica com uma imagem muito popular. A televisão atinge o povão, e é difícil para o espectador dissociar. Não dá para saber se ele vai embarcar, acompanhar o personagem e não o Gianecchini. Há esse preconceito, e eu entendo. Mas cabe a gente quebrar um pouco isso. Eu acredito no cinema e tento ser convincente, para as pessoas embarcarem na história.

Você pretende ficar longe das novelas e fazer o que?

Gianecchini –
Quero ficar um pouco longe da televisão, sim. Fora que é muito cansativo também, é uma loucura ficar fazendo uma novela atrás da outra. Gostaria de produzir mais. Fazendo mais cinema, vi que me interesso mais pelo processo todo. Não dirigir, porque meu barato é ser ator. Mas curto discutir o roteiro, a estética, por exemplo. Mas isso é mais pra frente, por enquanto quero ficar assim mesmo. Gosto de ter um tempo pra mim, ler, ir ao cinema. Fazer minhas coisas.

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