Nayara Silva não quer voltar para a escola e diz que tem medo de um dia reencontrar Lindemberg. Na tarde de sábado (1º), a adolescente falou ao Fantástico sobre os quatro dias em que esteve à mercê de um jovem frustrado e violento.
A testemunha-chave do seqüestro que chocou o Brasil revela o que aconteceu dentro de um apartamento em um conjunto habitacional de Santo André, no ABC. Ela diz que desde o começo Lindemberg afirmava que tinha propósitos definidos. "Ele falava que tinha entrado ali para matar a Eloá e se matar", conta.
A adolescente diz que Eloá propôs reatar o namoro, mas Lindemberg não aceitou. "Ele dizia: 'você vai voltar comigo por medo, e eu não quero isso'. Falava: 'eu não quero mais ficar com você. Eu vim aqui para te matar e eu vou te matar", afirma.
Segundo Nayara, Eloá apanhou do ex-namorado e, apesar das agressões, o jovem tinha alterações repentinas de humor e tentava beijar a ex-namorada. Nayara diz que as tentativas de aproximação e de intimidade não foram além.
Após o pedido das jovens, os dois amigos que estavam no apartamento foram liberados ainda na segunda-feira (13). Nayara diz que ela foi libertada no dia seguinte após contar para Lindemberg que não encontrava o pai havia um ano.
"Aí ele ligou e conversou com o meu pai e falou que ia dar uma segunda chance pra ele. Que ele ia me libertar e ele ia ter chance de ser meu pai de verdade". A adolescente diz que a libertação não tinha relação direta com o corte da eletricidade do apartamento, segundo o seqüestrador.
Volta ao cativeiro
Libertada, a adolescente prestou depoimento e voltou para casa, onde foi buscada no dia seguinte. Lindemberg exigia que Nayara e Douglas, irmão de Eloá, fossem até o prédio. Era uma condição para o fim do seqüestro, que já durava quatro dias. "Não sei se eu queria ir. Mas eu não discuti", relembra.
A amiga de Eloá conta que nenhum policial pediu autorização a sua mãe para que ela retornasse ao local. Conta também que não foi orientada para evitar aproximação. "Pelo menos que tivesse aconselhado. Dado algumas dicas, tipo 'se ele começar a falar para você se aproximar, você não se aproxima. Tenta recuar', alguma coisa desse tipo, não é?", lembra a adolescente
Ela lembra ainda que não foi alertada para a possibilidade de Lindemberg não cumprir com o que tinha combinado. "Eu acho que eles deveriam ter cogitado essa hipótese, porque ele falou muita coisa e não cumpriu, né?", disse.
Com a amiga sob ameaça de uma arma, ela acabou entrando no apartamento. Naquela noite, Eloá teve uma crise nervosa. "Ela começou a gritar e pedir a ele para matar ela, matar ela (sic). Aí ele pegou e apontou a arma pra mim. Aí como ela não parava de gritar, ele me deu dois tapas no rosto. Mas foi tapa leve, mais para assustar ela do que para me machucar. Foi onde ela começou a se acalmar", disse.
Barbie
Horas depois, Eloá e Lindemberg voltaram a discutir. Nayara fingia que dormia, e ouviu Lindemberg dizer que mataria a "Barbie", a culpada pela separação. "Barbie" é o apelido de Nayara.
Na opinião da adolescente, o dia mais calmo no cativeiro foi a sexta-feira, quando ocorreu o desfecho do seqüestro. "Porque ele estava garantindo que ia sair todo mundo". Horas antes do fim trágico, Lindemberg mandou as meninas se agasalharem, porque elas seriam libertadas naquela tarde.
"Aí ele já falou: 'Eu não vou sair. Só vocês duas vão sair'. Aí ele já começou: 'Vai Eloá, desembucha. Quem tirou você de mim? Foi a Barbie? Foi a professora?' A professora, no caso, é minha mãe", disse. Segundo ela, Lindemberg buscava alguém para culpar pelo fim do relacionamento. Pouco tempo depois, o seqüestrador conversou com o negociador pelo telefone, colocou a mesa para travar a porta do apartamento e houve a explosão. Nayara diz ter certeza de que Lindemberg não fez qualquer disparo minutos antes da invasão.
As 100 horas de seqüestro terminaram com Lindemberg preso e Eloá morta em conseqüência do tiro que recebeu na cabeça, além de outro na virilha. Nayara recebeu um tiro no rosto, passou por cirurgia e se recupera do trauma longe de Santo André. Diz não sentir raiva de Lindemberg, mas tem medo e diz não perdoá-lo pela morte da amiga.
"Eu não tenho raiva. Eu só não perdôo ele pelo que ele fez com a Eloá. Não por ele ter atirado em mim, mas por ele ter tirado a vida de uma pessoa maravilhosa. Ele pode ficar 30 anos na cadeia. No dia em que eu souber que ele vai sair, pode-se dizer que eu vou estar morrendo de medo", disse.
Análise das declarações
A Polícia Militar de São Paulo informou que vai solicitar à Rede Globo a íntegra da entrevista de Nayara, para análise de suas declarações. A Polícia informou também que todos os esclarecimentos sobre o episódio já foram prestados pelos policias do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) nos dois inquéritos policiais - civil e militar - que apuram as responsabilidades sobre o caso de Santo André.
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