terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Novela da Globo exagera, mas também mostra realidade de muitos indianos

Divulgação/TV Globo
Tony Ramos e a vaca em cena de 'Caminho das Índias'

Janela para o Oriente no horário nobre da televisão brasileira, a novela Caminho das Índias mostra aspectos de uma cultura rica e muito distante do nosso país. A maneira como o folhetim da TV Globo retrata os indianos, entretanto, nem sempre é a mais atualizada. A seguir, indianos e brasileiros ligados à Índia comentam alguns aspectos culturais abordados pela novela escrita por Glória Perez:

Casamento
"Na Índia, quase sempre os casamentos são arranjados", conta o presidente da Associação Brasileira de Ayurveda, Aderson Moreira da Rocha, repetindo o que disseram muitos indianos. O arranjo pode ser feito por um sacerdote, por um conhecido da família ou por uma agência matrimonial. O mais comum, porém, de acordo com os entrevistados, é o casamento por meio de anúncios de jornal. É provável que, na hora de analisar anúncios, uma família atente para a casta dos candidatos a matrimônio, informação que deve constar do texto juntamente com outras, como idade e sexo. Mas esse dado já não tem a importância de antes. Pela tradição, as uniões deveriam ocorrer apenas dentro de uma casta, mas isso está mudando. "Muitas famílias não seguem mais o costume", diz a cantora Ratna Bali. Portanto, impedir o casamento entre pessoas que não pertençam a um mesmo grupo, como acontece entre Maya (Juliana Paes), filha de um comerciante de perfumes, e o dalit Bahuan (Márcio Garcia), não é tão fácil. Ainda mais porque o dalit em questão possui uma boa formação acadêmica, fator capaz de inflacionar um dote. Além disso, a opinião dos noivos costuma ser levada em consideração, diferentemente do que a trama faz crer. "Antes de selar o compromisso, é feito um encontro para que as famílias se conheçam e também os noivos, que têm então a oportunidade de conversar a sós", conta o astrólogo Ananda Jyothi. "É difícil o filho não opinar", afirma o representante comercial Jagdish Doshi. Construir o mapa astral dos noivos para avaliar sua compatibilidade é comum, mas não obrigatório.

Dança
Chama a atenção dos espectadores brasileiros a forte presença da dança na Índia mostrada por Glória Perez. Segundo os indianos, a música e a dança têm mesmo uma grande participação no cotidiano do país. "Dançar é um modo de festejar a vida, que é uma manifestação divina. Por isso, todas as ocasiões têm música", afirma a cantora Ratna Bali, que prestou consultoria musical à novela. "A dança é uma expressão de felicidade", diz o comerciante Manik Jaspal. Para ele, também o colorido da trama é realista. "O povo, as festas... Tudo na Índia é muito colorido."

Relações familiares
Outro exagero do folhetim diria respeito ao modo de tratamento entre sogras e noras ou entre esposas e maridos. Na novela, as mulheres indianas não chamam nem um nem outro pelo nome: fazem uso dos títulos de parentesco. A cantora Ratna Bali discorda do texto. "A gente nunca chama a pessoa pela relação que tem com ela. Eu, por exemplo, não chamo a minha sogra de sogra, mas de mãe, porque ela é como uma mãe para mim", diz. Se ainda não é uma regra geral, chamar o marido pelo nome já é algo facilmente observável. A chef de cozinha indiana Nina Doshi chama o marido Jagdish, com quem é casada há 35 anos, pelo nome próprio. Mas conta que, para falar com o esposo, a sua mãe, de 80 anos, o chama de "pai da Nina". Outro subterfúgio para não pronunciar o nome do marido diante dele é chamá-lo por um termo equivalente a "irmão mais velho", o que ocorre em alguns lugares da Índia, segundo o astrólogo Anand Jyothi.

Animais
Num dos primeiros capítulos da novela, uma vaca é vista nos domínios do comerciante Opash, o patriarca vivido por Tony Ramos. A cena fez rir muitos indianos radicados no Brasil - segundo eles, a relação com os animais é diferente entre os indianos, mas nem tanto. Na Índia, conviver em harmonia com os animais é normal, porque, da maneira como se vê o mundo, a separação entre homem e natureza não faz o menor sentido. A integração entre o indiano e a natureza pode ser conferida nas metáforas usadas pelos personagens ("Ela é bonita como a lua", "Ele é duro como um burro teimoso") e nas cenas de rua, repleta de bichos. "É um caos total: você encontra elefante, cabrito, vaca e macaco, tudo junto, e todo mundo vive em paz", diz Doshi, que mora há 35 anos no Brasil mas vai anualmente à Índia. Daswani, do restaurante Tandoor, lembra que os animais estão presentes na mitologia indiana na forma de deuses, como o Ganesha, de cabeça de elefante, que aparece na abertura da novela. "Essa diferença entre seres humanos e animais fomos nós que criamos. O divino está em todo lugar, nos bichos, nas pedras, nas montanhas." Todos os entrevistados, porém, afirmam: entre conviver harmoniosamente com a natureza e ter uma vaca dentro de sua loja há uma grande distância. "Isso ninguém faz", garante a cantora Ratna.

0 comentários:

Postar um comentário

SEU COMENTÁRIO É MUITO IMPORTANTE PARA SEMPRE MELHORARMOS. DEIXE SUA CRÍTICA, SUGESTÃO OU ELOGIO. VOCÊ TAMBÉM PODE NOS ADICIONAR NO MSN: festa.show@hotmail.com! OBRIGADO.

 

Blog Revista Eletrônica- A TV mais perto de você Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger