sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"O público brasileiro aprendeu a separar o personagem do ator", diz Patrícia Pillar

Em entrevista a ÉPOCA, a atriz Patrícia Pillar, que interpreta a Flora na novela da Globo A Favorita, afirma que recebe o reconhecimento dos fãs nas ruas mesmo sendo uma vilã porque os brasileiros amadureceram.

 Reprodução

Apesar das maldades de Flora, sua personagem em A Favorita, Patrícia Pillar diz que não se sente mal interpretando a vilã: "Até me divirto com ela, que um dia
está experimentando as jóias da Donatela, no outro pensa em matar alguém"
A Favorita entra na reta final e Patrícia Pillar saboreia o sucesso da vilã Flora – que já está sendo considerada a mais malvada de todas as novelas, superando até a malvada Odete Roitman de Vale Tudo e o cruel Leôncio de Escrava Isaura. Por telefone, a atriz falou com ÉPOCA a respeito da personagem – que ela considera a mais "rica" que já fez – e sobre a falta de tempo para fazer as "coisas simples da vida". A novela, atípica, tem menos personagens do que a média do horário das nove, o que aumenta consideravelmente seu trabalho com uma das protagonistas. "Não vejo a hora de ler, ouvir música, olhar meus passarinhos", afirma. Sem falar nos treinamentos de boxe que ela começou no ano passado e teve que parar. "No começo, foi ótimo para exercitar a agressividade da Flora", diz.

ÉPOCA – Premiada pelos telespectadores, assediada nas ruas. Flora é uma vilã amada?
Patrícia Pillar – Acabou o tempo em que os atores que fazem os vilões apanhavam nas ruas. Eu só recebo carinho. É engraçado também como algumas pessoas parecem achar graça por eu estar fazendo esse personagem mau. Dão uma reclamadinha bem humorada, se divertindo, tudo muito leve. O público brasileiro está muito mais maduro, sabe bem separar personagem do ator. Além disso, no caso da Flora, ela é tão bandidaça, tão desequilibrada, que acaba saindo um pouco do real. Aí o que fica para as pessoas é o trabalho de uma atriz, é mais fácil separar.

ÉPOCA – Você acha que ela é a maior vilã de novela de todos os tempos?
Patrícia – Com certeza. Tudo de ruim que alguém pode fazer e ter, ela faz e tem. Não ama a filha, maltrata o pai, é má com os próprios aliados. Agora está pensando em como destruir os pequenos comerciantes de Trunfo. Ela tem uma gana pelo poder e pelo dinheiro enormes, que, na minha opinião, existem para aplacar o vazio na alma. É uma mulher que não tem auto-estima, que não desperta o amor de ninguém. Então ela vive essa relação de amor e ódio, de disputa com a mocinha Donatela. Isso tudo a torna muito interessante para mim como atriz.

ÉPOCA – Você já disse que este é o seu personagem mais "rico", mas não o melhor. Por quê?
Patrícia – Porque ser "o melhor" é um julgamento que não cabe a mim, cabe ao público, ao autor. Para o meu trabalho, é o mais rico. Uma vilã que traz possibilidades incríveis pela liberdade que ela tem. Numa cena é perversa, grita, mostra raiva. Na seguinte, fala baixo e é amorosa. Mesmo que seja fingimento, eu preciso fazer as duas e isso é difícil, mas está sendo muito bacana.

ÉPOCA – Que referência você buscou para fazer a Flora?
Patrícia – A referência maior é o próprio texto do João Emanuel. É primoroso, tem tudo que preciso para compor o personagem. Então meu primeiro movimento é sempre me debruçar sobre o texto. Mas há também um quê de tragédia ali dentro, que me orienta. Ricardo III, McBeth, um épico. Flora está travando uma batalha de vida ou morte. E ela é corajosa, suicida. Então esse clima de tragédia me deu uma direção. No mais, não há muito tempo para ver filmes ou ler livros atrás de referências de maldade, porque gravo enlouquecidamente, estudo, gravo, estudo. A sorte, repito, é que o texto é muito bom.

ÉPOCA – Ajudou saber do começo que Flora é que seria a vilã, ao contrário do público, que só soube depois de 50 capítulos?
Patrícia – Ajudou. O João Emanuel nos contou e guardamos segredo. Mas era necessário, para que a gente entrasse nessa brincadeira sem descaracterizar os personagens. De um lado, Flora saindo da cadeia com um discurso de provar sua inocência e reconquistar o amor da filha. Donatela, a outra, rica, que criara sua filha, contratando seguranças e avisando a todos para terem cuidado com a rival, numa atitude mais agressiva – levando o telespectador a apostar que Flora era mesmo a vítima. Hoje, ao olhar para trás, dá para ver como tudo foi bem construído. Um jogo de dramaturgia sensacional.

ÉPOCA – Viver a Flora faz mal a você às vezes?
Patrícia – Não, não tem nada de baixo astral, embora não tenha como fazer esse personagem sem ser tocado de alguma maneira. Mas nunca me confundi com personagem, tenho mais de vinte anos de carreira. E eu até me divirto muito com a Flora muitas vezes. O jeito dela, os termos, a falta de limites. Um dia se diverte experimentando as jóias da Donatela, no outro pensa em matar alguém. É claro que depois de um dia gravação de cenas pesadas, eu fico esgotada fisicamente. Mas também me divirto bastante.

ÉPOCA – No que você tem a ver com a Flora?
Patrícia – Acho que só na obstinação. Eu sou insistente, vou até o fim das coisas. A diferença é que meus objetivos são outros, o que me move são outras coisas!

ÉPOCA – Você tem tempo para cuidar da saúde, do corpo?
Patrícia – Eu vinha fazendo boxe desde o ano passado. Coloquei um saco em casa e me empolguei quando soube que ia fazer a Flora. O boxe me deu uma certa agressividade que eu não tinha, uma maior explosão. Mas não faço desde abril. Não consigo fazer nada. Eu gravo praticamente todos os dias e nos fins de semana estudo o texto. Essa novela é atípica, tem metade dos personagens que uma novela desse horário costuma ter. Todo mundo trabalha muito. Mas continuo com o mesmo peso. Muita gente comenta que eu estou mais magra, mas é que, no começo, Flora usava roupas largas, camisas grandes e, agora, mais executiva, está mais elegante, tem um figurino mais justo.

ÉPOCA – Depois da novela, vai descansar?
Patrícia –
Este ano era para eu ter feito o lançamento do documentário Waldick – Sempre no meu coração. Fui a dois festivais no começo da novela. Depois não pude ir mais. Houve um agora no Festival de Vitória, em que ganhamos alguns prêmios e eu não estava lá. Então, no ano que vem, eu pretendo ir a alguns eventos e fazer o lançamento do filme no circuito digital, provavelmente em março ou abril. Depois disso, tranqüilidade. Quero ir ao cinema, ler, estar com a família, os amigos, ouvir música, curtir minhas flores e os passarinhos que visitam minha casa. Enfim, as coisas simples da vida.

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