terça-feira, 4 de novembro de 2008

Especial 'O Fim do Silêncio'- parte 2


O fim do silêncio sobre Isabella

"Renata Pontes era a delegada de plantão quando a menina foi morta. Depois de meses sem falar sobre o caso, ela revela as evidências que pesam sobre os acusados, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá"

Mastrângelo Reino
OS SUSPEITOS
Anna Carolina e Alexandre quando foram presos pela segunda vez. A delegada diz que a suspeita já pesava sobre eles no início da investigação

Não era o primeiro caso de Renata com o assassinato de crianças. Em 2005, parentes da menina Ana Beatriz, de 4 anos, começaram a notar que ela andava sumida. O padrasto da menina, o advogado Fernando Fortes Lopes, e a mãe, Jaqueline, davam desculpas inverossímeis. Um dia, Fernando disse que a menina fora seqüestrada. Não tinham feito nem boletim de ocorrência. Renata começou a investigar. A irmã de Ana Beatriz, de 8 anos, acabou contando que Fernando levara a menina. Descobriu-se que ele deixara Ana Beatriz uma semana de castigo, trancada no lavabo. Ele maltratava as filhas, se descontrolava por qualquer “malcriação”. No dia em que tirou a menina do castigo, se descontrolou, espancou-a até a morte. Renata conseguiu sua prisão temporária. Fernando acabou confessando. O corpo de Ana Beatriz foi encontrado num lixão, em Itaquaquecetuba. No caso Isabella, o cadáver estava lá – estendido no chão.

Renata gosta de investigar assassinatos. No ano em que trabalhou na Divisão de Homicídios, a seu pedido, chegava a atender seis casos num só plantão. Aprendeu a conhecer a reação dos parentes das vítimas. “Na primeira hora depois do crime, o comportamento é de choque ou questionamento, não de investigação”, afirma. Na primeira conversa, ela viu que Alexandre e Anna queriam convencê-la da existência de uma situação que os excluísse de suspeita. “Eles falavam, e eu ponderava: ‘Por que um ladrão vai jogar uma criança da janela?’”. O diálogo prosseguiu. Aqui, ele é reproduzido de acordo com o relato da delegada:

– Se o ladrão percebe que o morador chegou, a primeira coisa que faz é fugir do local. Por que despertar uma criança que estava dormindo e jogar pela janela? – questiona Renata.

– Ela pode ter acordado – diz o pai.

– Se ela acordou, ele sai correndo. Uma criança de 5 anos não vai conseguir segurar um ladrão.

– Então ela pode ter reconhecido ele.

– Nesse caso, por que criar tanta dificuldade? Se ele tem uma faca, dá uma facada. Sabendo que o pai ia à garagem e voltava, o que demora dois minutos, ele não teria todo esse trabalho de procurar a tesoura, a faca, asfixiar a menina, jogar, guardar a faca e a tesoura, sair e ainda trancar a porta.

O casal admitiu, diz a delegada, que nada fora levado do apartamento. E passou para outra hipótese: vingança.

– Vocês têm inimigos, estão sendo ameaçados, fizeram alguma coisa que justificasse uma vingança?

– Não – diz Anna –, mas ontem o zelador do prédio ficou olhando de uma maneira estranha para a Isabella e para mim.

– Mas isso será um motivo?

– Há também um pedreiro que veio instalar uma antena, o Alexandre não deixou ele entrar e ele achou ruim – afirma Anna.

O casal, diz a delegada, também tentava apontar um suspeito: o porteiro do prédio.

Renata chegara à Rua Santa Leocádia, no bairro do Carandiru, pouco depois da 1 hora do domingo 30 de março. A rua estava ocupada por 11 viaturas da Polícia Militar. Os moradores e vizinhos do Edifício London, de onde a menina fora jogada, juntavam-se às dezenas na calçada. Renata entrou no prédio. A menina, que caíra em um gramado ainda com vida, já havia sido levada. O resgate chegara 15 minutos depois da queda. Acompanhada de um PM, Renata subiu ao 6o andar. Entrou no apartamento 62. O PM chamou sua atenção para duas ou três gotinhas de sangue, no chão da sala. Elas faziam um trajeto da entrada até o sofá. No corredor, em direção ao quarto mais próximo, outras gotinhas de sangue. Mais sangue estava num lençol, no quarto. Sobre a cama próxima à janela, uma marca de sola do sapato de um adulto. A tela de proteção da janela estava cortada. Nela havia uma mancha quase imperceptível de sangue.

A delegada procurou um “instrumento cortante”, que poderia ter sido usado na tela. Não achou. Quem cortou a tela teria levado o instrumento? Jogado pela janela, ele não fora. Vistoriando o apartamento, encontrou na cozinha, em cima da pia, uma tesoura de cortar frango e uma faca, grande. As peças foram apreendidas. Na tesoura, a perícia acharia um fragmento de fio igual ao da tela cortada do quarto.

Quarenta minutos depois, já de saída do prédio, a delegada conheceu o pai da menina, Alexandre Nardoni, e o pai dele, Antonio. Voltavam da Santa Casa, para onde Isabella fora levada – e chegara morta. Antes de qualquer cumprimento, Alexandre perguntou para a delegada se o ladrão já havia sido encontrado, ou suas impressões digitais. Renata conversou rapidamente com ele. Havia muita gente em volta.

Do local do crime, a delegada foi para a Santa Casa. O corpo da menina estava no necrotério. Renata analisou os ferimentos, superficialmente. Havia um corte na testa, do qual pingara o sangue no apartamento. “Isabella parecia um anjinho dormindo. Naquele momento senti o tamanho do problema que tinha em mãos”, diz Renata. No Instituto Médico-Legal (IML), os legistas tentavam desvendar um enigma: a criança morrera ao ser jogada de 20 metros de altura, mas tinha sinais de asfixia.

Os legistas encontraram sinais de esganadura (comuns quando o pescoço é apertado por mãos). A pressão sobre um nervo do pescoço (o vago) desacelera o batimento cardíaco, deixa a vítima inconsciente, pode provocar convulsão e vômito (havia vômito no pulmão de Isabella, que ela aspirou) e levar à morte. A delegada diz que não há um laudo oficial com a comprovação de que uma mão feminina, neste caso da madrasta, tenha asfixiado Isabella. No relatório do inquérito sobre o caso, Renata conclui que foi Anna quem apertou o pescoço de Isabella. Mas baseia-se em depoimentos de testemunhas.

Um morador de um prédio vizinho disse ter ouvido uma criança gritar, no apartamento do casal: “Papai, papai, papai, pára”. Pareceu, ao depoente, que a criança não mandava o pai parar, mas o chamava, como um pedido de socorro. E dizia “pára” a outra pessoa. Dois dias depois, a delegada localizou outra vizinha, que ouvira os mesmos gritos de criança chamando pelo pai. As duas testemunhas dos gritos não se conheciam. “Uma pessoa idônea, com credibilidade, pode às vezes se deixar influenciar, ou se confundir, num cenário trágico como esse”, diz Renata. “Mas, quando vi duas pessoas que não se conheciam falando a mesma versão, não tive mais dúvidas”. Concluiu que Pietro, o filho de 3 anos, chamava o pai, porque Anna estava esganando Isabella. É o que diz também nas conclusões do inquérito. Foi naquele momento que a delegada decidiu pedir a prisão temporária do casal.

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