quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Especial 'O Fim do Silêncio'- parte 3


O fim do silêncio sobre Isabella

"Renata Pontes era a delegada de plantão quando a menina foi morta. Depois de meses sem falar sobre o caso, ela revela as evidências que pesam sobre os acusados, Alexandre Nardoni"

Outro fato contribuiu para a decisão de Renata. Dois dos moradores do prédio afirmaram, em depoimento, ter ouvido o casal discutir no apartamento, nos minutos que antecederam a queda da menina. Disseram que Anna falava muito alto, muitos palavrões. Depois que Isabella caiu, ouviram a mesma voz, falando palavrões pelo celular, no térreo. “Se Alexandre e Anna entraram no apartamento quando Isabella já tinha caído, como explicam a discussão entre eles e os gritos da criança chamando o pai?”

 Reprodução
MÃE E FILHA
Ana Carolina de Oliveira, com a filha que perdeu nas mãos do ex-marido. Esse não foi o primeiro caso da delegada envolvendo crianças. Mas foi o que ganhou a maior dimensão

Na madrugada da quarta-feira, o quarto dia de investigação, ela fundamentou seu pedido de prisão temporária do casal. “Eu me convenci de que era o momento, a investigação já estava bem consubstanciada.” As evidências mostravam que Isabella fora agredida ainda no carro, a caminho de casa. Ficara com um corte na testa, que sangrava. Ao chegar, Alexandre a carregara no colo, pressionando sua boca, para que não gritasse. No apartamento, a jogara no chão, ao lado do sofá. Aí a menina foi esganada, provavelmente por Anna. E lançada da janela, provavelmente por Alexandre. Os peritos constataram que a marca de calçado, sobre a cama encostada à janela, é da sandália “preta, tamanho 41, modelo havaianas” de Alexandre. Em sua camiseta, foram encontradas marcas em forma de losangos, deixadas pela tela de proteção, “quando segurava a filha pelas mãos, no momento em que foi precipitá-la”. Na noite da quarta-feira, a Justiça decretou a prisão do casal. Nove dias depois, o Tribunal de Justiça mandaria soltá-los.

Naqueles dias, Renata trabalhava muito além do expediente. Dormia três a quatro horas por noite. Numa dessas esticadas, estava na alça da Avenida 23 de Maio, para pegar a Avenida Paulista, quando o vidro direito de seu carro estilhaçou. Era meia-noite. Um assaltante quebrara o vidro com uma pedra e pegara um envelope, no banco. Ali estavam peças do inquérito. A delegada disputou o envelope com o bandido. Feriu a mão, mas conseguiu salvá-lo.

Sem falar com a imprensa, Renata se trancava em sua sala, com um retrato de Isabella sobre a mesa. Para chegar à delegacia, parava antes num posto de gasolina. Falava ao celular, e um carro vinha apanhá-la. Com 1,74 metro de altura, ela se escondia deitando-se no banco de trás. Entrava no prédio por uma porta lateral. “Se eu falasse passo a passo o que já sabia, prejudicaria a investigação. Nem os policiais da delegacia tinham ciência”. Ela diz que não lia sobre o caso nos jornais nem acompanhava o noticiário na TV. “Não queria me deixar influenciar”. Renata achava que ficaria tentada a explicar informações imprecisas e que isso desviaria seu tempo da investigação. Divulgou-se, por exemplo, que uma tia de Isabella, ou um dos avôs, entrou no apartamento antes da perícia e limpou o sangue. Isso seria impossível, diz Renata, porque a Polícia Militar chegou quase imediatamente depois da queda e, desde então, preservou o lugar. “Quem limpou o sangue foi o casal, antes de atirar a menina pela janela”, afirma.

As investigações prosseguiam. “Chegavam denúncias anônimas sem coerência, mas a gente ia atrás, checava, ouvia a pessoa para esgotar todas as possibilidades”. No inquérito, havia outros depoimentos que comprometiam Alexandre e Anna. O porteiro Valdomiro da Silva Veloso foi o primeiro a ver o corpo de Isabella caído sobre o gramado. Ouviu um baque, abriu a janela da guarita e deparou com aquela cena. Ligou para Antonio Lúcio Teixeira, que mora no 1º andar. Este saiu à sacada de seu apartamento e viu a menina. Chamou o 190, do Copom, o Centro de Operações da Polícia Militar. Ainda estava falando quando Alexandre surgiu no térreo, gritando sobre um ladrão no apartamento. Por isso, Antonio Lúcio pôde acrescentar na conversa com o Copom o detalhe de que havia um ladrão e dizer que a menina caíra do 6º andar (sabia o andar de Alexandre). O telefonema ficou registrado. Calcula-se que a menina tenha sido jogada por volta de 23h49m. Às 23h49m59s, Antonio Lúcio começou a falar. Momentos depois Alexandre surgiu no térreo, gritando.

Alexandre e Anna afirmavam ter descido juntos do apartamento, ao ver que Isabella tinha caído. Mas confirmou-se o seguinte: Antonio Lúcio ainda estava falando com o Procom quando Anna, do apartamento, ligou para seu pai. Treze segundos depois, nova ligação, agora para o pai de Alexandre. Quando Antonio Lúcio terminou de falar, ela continuava ao telefone, no apartamento. Alexandre já estava no térreo. Para Renata, o casal poderia estar tramando um ardil contra o porteiro Valdomiro.

"Para ter forças, ficar sem dormir e seguir investigando,
eu pensava na mãe que não podia beijar sua filha"

Renata volta a lembrar a primeira conversa com o casal, no domingo depois do crime. Diz que Alexandre e Anna falaram muito sobre Valdomiro. Perguntavam se ele já tinha sido investigado. “O Alexandre já chegou à portaria gritando ‘tem um ladrão, tem um ladrão’ e mandando o porteiro subir ao apartamento”, diz Renata. “O Antonio Lúcio disse para ele: ‘Não saia aí da guarita’. Se tivesse subido, o que estava disposto a fazer, Valdomiro teria encontrado Anna e de alguma forma poderiam tentar vinculá-lo ao crime”.

Nessa primeira conversa, já havia uma questão em aberto: o horário. Se Alexandre deixou Isabella no apartamento, voltou para o carro, retornou com Ana e os dois filhos e viu que a menina fora jogada, deixou muito pouco tempo para um estranho agir. Alexandre alegou que ficaram alguns minutos dentro do carro, na garagem, porque havia ali outro carro, com som alto, que poderia acordar as crianças. “Eles foram aumentando esse período para dar tempo de o suposto estranho fazer alguma coisa”, diz Renata.

Mais tarde, ao depor no inquérito, o casal calculou ter gasto 19 minutos entre sua chegada à garagem e a entrada de toda a família no apartamento. O carro de Alexandre, no entanto, tinha monitoramento por satélite. E esse sistema registrou a hora exata em que o motor foi desligado: 23h36m11s. O telefonema de Antonio Lúcio para a PM, falando da queda de Isabella, foi às 23h49m59s. Portanto, entre a chegada e a queda da menina transcorreram 13 minutos e 48 segundos.

Outra questão: a chave usada pelo suposto ladrão ou vingador para entrar no apartamento. Moradoras do prédio disseram a Renata que Alexandre falara em arrombamento da porta (que estava intacta, como a perícia constataria). Na delegacia, o casal falou na cópia da chave que existiria na portaria. O apartamento é novo, foi entregue em setembro do ano passado. O casal trocou portas e fechaduras, estas pelo modelo tetra, de quatro gomos. Os técnicos que fizeram o serviço, chamados a depor, confirmaram o trabalho. Cópias das chaves só haviam ficado na portaria enquanto os apartamentos não estavam ocupados. Depois, não. No fim da investigação, Anna Jatobá deu outra versão: tinha perdido a chave. E o assassino a teria achado.

O sangue que Renata não viu, ao vistoriar o apartamento no primeiro dia, apareceu quando os peritos usaram um reagente químico, chamado bluestar. Com ele, tornaram-se visíveis uma mancha de sangue perto do sofá e o sangue numa fralda que fora lavada e estava num balde. A delegada diz que a peça foi usada para limpar o apartamento ou estancar o sangue da testa da menina, no trajeto do carro para a moradia. “O sangue no apartamento foi suficiente para provar que era de Isabella”, diz Renata. Pelo mesmo processo, foram detectadas gotas de sangue com o perfil genético da menina no carro de Alexandre. Ali foi encontrado material genético de outras pessoas da família, que poderia ser vômito ou saliva das crianças. Mas só Isabella teve sangramento. “Por isso, posso afirmar que o sangue é dela”.

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