terça-feira, 11 de novembro de 2008

Especial 'O ataque das superbactérias'- parte 2


Uma nova geração de pragas resiste aos antibióticos até se tornar invencível. Por que todos nós estamos vulneráveis

O retorno à era pré-antibióticos está se tornando realidade em várias partes do mundo

O mesmo tem acontecido com muitas outras bactérias (confira a ilustração na pág. 5). “Há cada vez mais relatos de infecções causadas por microorganismos contra os quais não existem opções terapêuticas adequadas”, escreveu recentemente o microbiologista Christian Giske, do Hospital da Universidade Karolinska, em Estocolmo. Ele e outros colegas publicaram em março um levantamento sobre a ameaça global das bactérias multirresistentes na revista científica Antimicrobial Agents and Chemotherapy. “O retorno à era pré-antibióticos está se tornando realidade em várias partes do mundo”, escreveu Giske.

Por que chegamos a esse ponto? A resistência das bactérias aos remédios existe desde que os antibióticos foram inventados. Alexander Fleming, o descobridor da penicilina, ganhou o Prêmio Nobel em 1945 por sua enorme contribuição, até hoje considerada uma das mais importantes da medicina. Em seu discurso, Fleming ressaltou que o uso inadequado de penicilina iria torná-la ineficaz. O perigo, ele explicou, era usar uma dose insuficiente para matar as bactérias mas suficiente para ensiná-las a resistir à penicilina.

O alerta foi dado, mas não impediu o uso incorreto da medicação. O primeiro caso de resistência à penicilina foi registrado em 1947, apenas quatro anos depois de o remédio começar a ser produzido em larga escala. Nas décadas seguintes, verificou-se que o problema se repetia em todas as novas gerações de antibióticos. As bactérias aprendem a resistir aos remédios e passam a informação até mesmo para colegas de outras espécies (confira como elas fazem isso na ilustração da pág. 5).

A única forma de evitar a resistência é usar antibióticos apenas quando eles são estritamente necessários. Estima-se que metade das prescrições de antibióticos seja desnecessária. Durante a consulta, o médico não tem condições de saber se a infecção é causada por uma bactéria ou por um vírus. Um exemplo: sete de cada dez casos de pneumonia são causados por vírus. Mas o médico não pode esperar a chegada dos exames (o que pode demorar até dois dias) para tomar uma decisão. Há outras razões. Muitos médicos prescrevem os remédios quando examinam um bebê com febre e uma dolorosa infecção de ouvido. Racionalmente eles sabem que o remédio pode ou não fazer efeito. Mas a receita é uma forma de acalmar os pais. No Brasil, onde os antibióticos são vendidos sem receita e a automedicação é uma mania nacional, a situação pode ser ainda mais grave.

Outro fator que contribui para a resistência bacteriana é abandonar o tratamento quando os sintomas começam a desaparecer. Apesar da falta de sintomas, em geral ainda há muitas bactérias vivas, e a interrupção do tratamento pode fazer com que elas se tornem resistentes. “Quando uma pessoa toma um antiinflamatório de forma inadequada, o problema é dela. Quando faz isso com um antibiótico, o problema é de todos nós”, diz Flávia Rossi, do HC de São Paulo. “As mudanças que essa pessoa provocou na flora bacteriana dela serão transmitidas aos outros.” Evitar o consumo irracional de antibióticos é fundamental para preservar as bactérias boas. Onde há bactérias boas, as ruins não entram porque elas competem pelo mesmo espaço.

O uso indiscriminado de antibióticos na pecuária também ajuda a explicar a crise atual. Estima-se que 70% de todos os antibióticos usados nos Estados Unidos estejam nas fazendas. As drogas não são usadas para curar animais doentes, mas para evitar que eles fiquem doentes. Além disso, baixos níveis de antibióticos parecem acelerar o crescimento dos animais. A idéia é matar bactérias intestinais para reduzir a competição por energia. Com isso, o animal absorve mais energia da comida e cresce rapidamente. Bactérias resistentes a antibióticos são encontradas no ar e no solo das fazendas, na água, na carne e no frango processados. As bactérias são levadas para a cozinha e contaminam outros alimentos.

0 comentários:

Postar um comentário

SEU COMENTÁRIO É MUITO IMPORTANTE PARA SEMPRE MELHORARMOS. DEIXE SUA CRÍTICA, SUGESTÃO OU ELOGIO. VOCÊ TAMBÉM PODE NOS ADICIONAR NO MSN: festa.show@hotmail.com! OBRIGADO.

 

Blog Revista Eletrônica- A TV mais perto de você Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger